sábado, 19 de novembro de 2011

Prêmio Sated

Muitos pensavam que ele estava morto (eu inclusive), mas no próximo dia 28 será realizado o prêmio Sesc/Sated que irá contemplar os melhores espetáculos das temporadas 2010 e 2011. Segundo o regulamento do prêmio no próximo dia 22 serão anunciados os indicados para na categoria Teatro. Teremos surpresas?

Curtas

Marcelo Castilho se foi...

Estou fazendo esse comentário um pouco tarde, mas é preciso de um pouco de tempo para que possamos processar nossas perdas.
Marcelo Castilho de Avelar se foi. Como outros artistas que se foram esse ano, Marcelo foi embora como um passarinho. Saiu de cena sem pedir licença, sem avisar ninguém. Atitude típica de um anarquista (ele se confessava um). Uma pena.
Marcelo Castilho era uma das mentes mais iluminadas do teatro mineiro. Quem teve a oportunidade de ter sido seu aluno no Cefar ou na PUC sabe o que estou dizendo. Ele acompanhou minha formação de ator durante os três anos em que passei pelo Cefar sendo por esse motivo escolhido para paraninfo de nossa turma. Para além de seu jeito meio esquisito, arrogante até, escondia um professor em tempo integral sempre disposto a compartilhar o seu saber (que era muito) com seus eternos alunos.
A imprensa cultural do estado, anêmica desde muito, perde um crítico que pelo menos sabia do que estava falando.
Necessário dizer que ele ao lado do grande Elvécio Guimarães foram os professores que mais marcaram minha formação de artista. Não sei se fui um bom aluno, mas sei que aprendi muito com ambos.
Grande Marcelo, mais uma estrela que brilha em nosso céu.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

A marcha contra a corrupção

Falar de política para mim é sempre uma necessidade.


Assim como no dia da independência, ontem, dia da padroeira do Brasil, também foi dia de marcha contra a corrupção, especialmente em Brasília onde, estima-se, compareceram cerca de 20 mil pessoas. No Bom Dia Brasil de hoje, comentando sobre a importância da marcha, Alexandre Garcia disse que foram os cara-pintadas que colocaram Collor para fora. Em 1992 eu também estava lá. Eu também saí às ruas para gritar “Fora Collor”, mas não creio que tenha sido apenas a agitação das ruas que tenha colocado o caçador de marajás para correr. As elites desse país têm um senso de sobrevivência inigualável e, como bons ratos, abandonaram o barco antes que ele afundasse. Se não me falha a memória, na votação do impeachment o presidente contou com menos de 20 votos a seu favor e olha que a esquerda não tinha maioria nenhuma naquela época.
A marcha contra a corrupção traz duas marcas básicas: dizem ter sido convocada somente pelas redes sociais, Facebook em especial, o que a colocaria em sintonia com a “primavera árabe” e com os movimentos de insatisfação na Europa e EUA, ou seja, estamos todos antenados. Outra característica é que se denomina como apartidária. Não foram vistas bandeiras nem de partidos políticos, nem de sindicatos ou da UNE. Os poucos participantes que se aventuraram a desfraldar alguma flâmula partidária foram vaiados. Até o impoluto senador Eduardo Suplicy foi barrado ao tentar fazer um discurso na marcha de São Paulo.
O apartidarismo da marcha é sintomático e, em minha avaliação, tem relação com o que escrevi anteriormente sobre a falência do modelo partidário/sindical atual e a UNE, um dos baluartes da oposição à ditadura mais respeitados nos anos 60, sinto informar, está no mesmo barco. A busca e a manutenção do poder são, conforme demonstrou Maquiavel, os objetivos fundamentais do príncipe, algo intrínseco a atividade política. Só que pelo visto, o poder pelo poder anda enojando muito gente.
Não participei da marcha. Sinceramente não tenho muita simpatia por esse tipo de manifestação. Me cheira a moralismo e me remete a outras marchas do passado de tão triste memória para a democracia (falo evidentemente das marchas da família, com Deus pela liberdade e ao golpe militar que se seguiu a elas). Mas reconheço que ela tem sua importância. Temos mesmo que nos indignar com esse estado de coisas e é nosso dever nos movermos para modificar tal estado. Só lamento o fato de que ela mire apenas a classe política, como se tal classe não espelhasse a própria sociedade. A mesma sociedade que elegeu a lei de Gérson como um de seus pilares e cuja MPB, pelo menos em sua versão carioca, sempre foi bastante simpática com a malandragem. Digno de nota é o símbolo utilizado por muitos participantes para expressar sua justa indignação: a vassoura que num passado nem tão distante serviu de mote para a campanha de um certo presidente de triste memória.
 Vendo de fora tem-se a impressão de que existe um clima de aversão aos políticos e aos partidos, uma sensação geral de que todos se equivalem, não importa a sigla ou a cor da bandeira. É que o PT e boa parte da esquerda durante muito tempo se apropriaram de um discurso moralista onde sempre se colocavam como os portadores de uma verdade ética incontestável. A CUT e seus sindicatos, como extensão do PT sempre foram pelo mesmo caminho. Figueiredos e Sarneys, Malufs, Collors e FHCs sempre eram os ladrões vendidos a serviço do FMI, como pelegos eram sempre os outros sindicalistas que não rezavam pela nossa cartilha. A esquerda chegou ao poder – nosso sonho, pelo menos o meu – e aí veio o mensalão. Nosso castelo caiu.
Tudo bem, o mensalão não foi provado e o Zé Dirceu foi cassado. Ficou de pé até o fim ao contrário de figuras como o ACM, Jader Barbalho e tantos outros que renunciaram para não ser cassados. Mensalão provado ou não a corrupção continuou e continua, em todos os níveis: federal, estadual, municipal, policial ou judicial, sob qualquer partido. Antigos babacas de ontem são nossos aliados de hoje e a oposição... Bem, melhor nem falar.
Mas também não foram vistas bandeiras de partidos de esquerda que não estão no poder como o PSOL e o PSTU, por que será? Volto a minha tese, os partidos políticos, pelo menos da forma como estão configurados, não despertam mais o interesse de ninguém. Discursos bonitos todos podem fazer, mas a prática é outra coisa.
Na contramão do que eu chamo de decadência da forma partidário (ou até para confirmá-la) surge o PSD do Kassab. O que esse partido representa? Alguma ideologia? Alguma novidade em termos de se fazer política? Para mim não. No meu entedimenteo esse partido surgiu da necessidade de alguns políticos que estavam na oposição ao governo Dilma migrarem para sua base de aliados onde vicejam os cargos e as verbas. Novidade nenhuma. E prova disso é que sem ainda ter disputado uma única eleição, já tem em suas hostes dois governadores, alguns senadores, vários deputados federais e estaduais e o prefeito da maior cidade da América do Sul. Qual sua ideologia? Ideologia? Que bobagem é essa? E então veio a notícia da entrada do ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, para a sigla, não sem antes consultar Lula. Minha tese sobre o PSD está uma vez mais comprovada.
Voltando à oposição. Lendo a Folha de hoje deparo com a desilusão de um colunista frente a uma entrevista que o senador Aécio Neves teria dado ao Estadão. O colunista se decepciona com a falta de conteúdo de um político que se postula candidato à presidência da República. Para mim não há surpresa. Estou bastante acostumado com o jeito tucano de governar. Não me assusto com sua falta de idéias. Que idéias mudaram o estado durante o seu governo? Sabemos que tal governo foi marcado por uma oposição anêmica e pelo apoio incondicional de uma imprensa chapa branca. Seu sucessor, ao que parece,segue-lhe os passos que o digam os professores da rede estadual. Nesse contexto ter idéias pra quê? Mesmo porque as idéias que o PSDB tem para o país já foram colocadas em prática nos oito anos da gestão de Fernando Henrique e elas foram derrotadas nas urnas em 2002. Não há novidade.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Política

Volta e meia recebo e-mails e notícias sobre o movimento “Fora Lacerda”. Muitas vezes os leio com atenção. O fato é que o prefeito de Belo Horizonte conseguiu atrair para si toda a antipatia da classe artística da cidade, do pessoal do teatro em especial e a antipatia não é gratuita. Afinal, conforme exposto em artigo recente pelo meu ilustre ex-professor Marcelo Castilho de Avelar, a PBH tem desenvolvido no âmbito cultural da capital uma insistente política do “não”. A tentativa de cancelar o FIT ano passado, na contramão da lei, foi talvez a atitude mais evidente. Aliás, penso que se o desrespeito às leis parte do próprio governo (que deveria zelar por elas) já seria motivo suficiente para pleitearmos a revogação de tal governo, mas isso é outra história.
Não sei se o movimento “Fora Lacerda” consegue atingir outras praias além das povoadas por alguns setores da intelectualidade local, o que é realmente uma pena. Um amigo meu, que trabalha na prefeitura junto com comunidades de risco, me disse recentemente que com o fim das ideologias o que vale hoje em dia é uma política de resultados. Talvez ele tenha razão em parte. Não acredito que as ideologias tenham chegado ao fim e os motivos tentarei expô-los mais adiante, mas é bem provável que vivamos sob o império dos resultados e está aí a religião que não me deixa mentir.
Fala-se, por exemplo, de uma ruptura entre o prefeito e o seu vice, Roberto Carvalho, que é do PT e que o vice seria uma alternativa eleitoral à reeleição de Lacerda. Não penso assim. Independente do fato de prefeito e vice não se falarem (como já me disseram que ocorre) não sei se o PT é alternativa ao que está aí mesmo porque o que está aí é obra do próprio PT. Como todos sabemos, Márcio Lacerda foi eleito a partir de um acordo entre o PT e o PSDB e é pouco provável que tal aliança não se repita no próximo ano. Há gente que diga que o acordo já foi fechado.  Se o vice está se colocando como alternativa ou se está sendo colocado por alguém para mim é chute, balão de ensaio e não alternativa real.
Desde a metade dos anos 90, para ser mais exato, desde a eleição de Célio de Castro em 1996 que venho falando para alguns amigos que a forma como fazemos política está falida. Falo tanto de política partidária quanto de política sindical. Penso que a forma “partido político” está esgotada e a forma sindicato também. Falando assim parece que estou proferindo uma heresia, mas qual não foi minha surpresa ao ler semana passada um artigo do filósofo Vladimir Safatle afirmando quase as mesmas coisas. O que ocorre é que os partidos políticos não conseguem captar a dinâmica da sociedade, não conseguem se transformar em canais que expressem esse emaranhado de desejos desse ser amorfo que chamamos de povo.  Exemplo disso são os indignados na Europa e agora os que protestam contra o mundo das finanças nos EUA.
O apregoado fim das ideologias parece ter nos deixado num sério impasse. Elegemos partidos que tradicionalmente se colocaram no campo que se convencionou chamar de esquerda, o que não deixa de ter suas implicações e não apenas na ordem do discurso. Mas o que de fato ocorre é que no mundo da política real antigas bandeiras são deixadas de lado e passamos a exercer a política econômica que criticávamos quando estávamos na oposição. Parece que no mundo real existe algo que não pode e não deve ser tocado de forma alguma, o mundo ordenado por esse deus monetário. Vejamos a crise econômica atual. As soluções para o saneamento de tal crise nunca passam por um questionamento sobre o que levou o mundo a esse estado de coisas, mas quem paga o pato são sempre os mesmos e com a conivência da chamada esquerda. A banca não pode perder nunca.
E se é assim então o que diferenciam os partidos políticos? Se na hora da verdade o PT acaba se comportando como o PMDB ou como os tucanos, por que votar nele? E se não há diferenças substanciais entre os partidos políticos (a não ser o discurso) e esses partidos não conseguem defender as nossas demandas (que são muitas) então não seria a hora de repensarmos esse modelo?
Não sei se os insatisfeitos da Europa pensam assim. Por lá a desconfiança com os partidos é antiga. Em maio de 1968, não sem vacilar, o PC francês e também os trotskistas se dispuseram a marchar ao lado dos estudantes, mas foram rechaçados. “Vocês só querem o poder” teria sido a frase dita. Sim, é verdade. Vemos isso em nosso dia a dia no movimento estudantil e no sindical que estão mais ao nosso alcance. Nos protestos contra a corrupção do dia 7 de setembro os partidos políticos também foram hostilizados em Brasília. Talvez por que o movimento anticorrupção mire apenas a classe política o que é um equívoco, mas talvez porque também já esteja aflorando a sensação de que esses partidos de discurso não nos representam.
Não sei o que colocar no lugar dos partidos. Essa pergunta sempre surge quando coloco a questão da falência partidária. Partindo do pressuposto de que a democracia é o melhor regime que conseguimos inventar até agora, acredito que ruim com os partidos, pior sem eles. Mas o fato é que precisamos urgentemente pensar em outras alternativas de organização, daí meu palpite de que as ideologias ainda não chegaram ao fim, longe disto.
E voltando ao quadro político de Belo Horizonte penso que necessitamos com urgência de pensar em alguma alternativa para as eleições municipais do ano que vem. O que será ou como será eu honestamente não sei. Mas o que se apresenta por aí é sempre a mesma coisa e dessa mesma coisa estamos fartos, não é mesmo?

Pílulas

Ainda sobre futebol e outros esportes:
1)   Meia  entrada
Aprovado pelo Congresso Nacional o Estatuto de Juventude que estabelece meia entrada para estudantes de 15 a 29 anos. A medida atinge também os ingressos para as partidas de futebol e dentre elas as da Copa do Mundo que se realizará em 2014 no país. A toda poderosa FIFA chiou. A entidade, verdadeiro poder paralelo no mundo atual, não investe um centavo sequer nas obras que o Brasil está fazendo para sediar a Copa, faz uma lista interminável de exigências e não pode perder nada com os ingressos. É a velha história que todos conhecemos: eles entram com o pé e nós com a...
Mas sem sombra de dúvida a pérola sobre o assunto veio do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, que sugeriu que o poder público municipal, estadual e federal arcasse com a outra parte do ingresso para não “prejudicar” a coitadinha da FIFA. Espero que o eleitorado carioca que em um passado nem tão distante assim (falo dos anos 60, 70 e começo dos 80) tinha fama de rebelde, não se esqueça desse tipo de proposta nas eleições municipais do ano que vem e dê a devida resposta.
2)   Copa Sul Americana
O que fazer com uma competição como a Copa Sul-Americana? Vendo o jogo do Vasco contra o Aurora da Bolívia em que o cruzmaltino, que jogou com apenas 2 titulares, levou uma sapatada de 3x1 fiquei pensando até que ponto essa competição se justificaria dada a aparente falta de interesse das equipes brasileiras, sempre às voltas com rodadas cruciais do Brasileirão. Sempre fui um defensor da existência de outras competições interclubes no continente para seguir o exemplo europeu que, até 1999 possuía quatro disputas diferentes. Até a década de 90 as competições alternativas à Libertadores se justificavam pelo fato de que a própria competição maior da América ser disputada por apenas 21 clubes (2 de cada país e mais o último campeão), mas a partir de 2000 com o inchaço da Libertadores a Sul Americana perdeu sua razão de existir. Aconteceu também na Europa que integrou a antiga Recopa à sua Liga dos Campeões também inchada. Lá existe outra competição, a Liga Europa, mas o velho continente tem mais de 50 países e, por motivos técnicos e econômicos, nem todos tem acesso à fase de grupos da competição e aos mata-mata cruciais. A América do Sul tem apenas 10 países inscritos e mais o México convidado. Do jeito que está é uma competição boba, desinteressante e desprezada pelos times importantes (pelo menos do Brasil). Se ela ainda fosse disputada simultaneamente a Libertadores como na Europa, quem sabe?

3)   Pan no México

Outra competição que a meu ver está perdendo a razão de existir é o Pan. A despeito do fato de esse ser transmitido pela Record, uma boa novidade em detrimento ao monopólio abusivo de transmissões esportivas detidos pela Globo e ao grande investimento que os países sede fazem (como o Brasil em 2007), fico pensando na justificativa técnica para sua existência atual. Para mim competições esportivas só se justificam se contarem com o que existe de melhor na modalidade em disputa. Pense numa Copa América sem o Brasil ou a Argentina ou em que tais países só enviassem equipes sub 17 ou 20, por exemplo. Que graça teria? O fato é que nos Jogos Pan-Americanos raramente países importantes como os EUA mandam o que tem de melhor e aí vão dois exemplos para o que estou dizendo: o Brasil é o atual bi-campeão pan-americano de basquete masculino. Será que equipes como a da Argentina e dos EUA mandam seus melhores times para o Pan? Claro que não. E a prova disso é que o Brasil somente esse ano conquistou uma vaga olímpica depois de quase dezesseis anos ausente (a última participação olímpica do basquete brasileiro fora em 1996 em Atlanta no que foi a despedida do grande Oscar). Nesse intervalo a Argentina foi medalha de ouro em Atenas. Falar mais o quê?
Outro exemplo foi o desempenho do nadador Tiago Pereira no Pan de 2007. Foram sete medalhas de ouro, feito que fez com que a imprensa tupiniquim o comparasse ao grande Mark Spitiz que no Pan de 1967 também havia ganho o mesmo número de medalhas. Ocorre que Sptiz foi o grande vencedor das olimpíadas de 1972 ganhando o apelido de “tubarão de Munique”. Todos nos lembramos do desempenho de Tiago Pereira nos últimos jogos de Pequim, não é? E não vai aqui nenhuma crítica ao atleta.
Para concluir, penso que se não for para reunir o que existe de melhor no continente, Pan para quê?

Para falar de futebol

Não sei o que pensam sobre futebol os que porventura me lêem nesse espaço. De antemão devo confessar que apesar de nunca ter jogado bola na infância (sim, eu era um menino diferente), gosto do, nem tão nobre assim, esporte bretão. E como esse espaço tem o objetivo de refletir o que penso vamos lá:
Faltando dez rodadas para o final do campeonato brasileiro os três representantes mineiros encontram-se nas últimas colocações. No último sábado, América e Atlético protagonizaram um clássico sofrível onde, para utilizar a expressão de um diário local, faltaram futebol e público. Vejo-me na obrigação de discordar. Faltou futebol, como vem faltando a ambos os esquadrões há tempos. Público não. Pelo contrário, os setecentos e poucos torcedores que compareceram à Arena do Jacaré foram até bastante numerosos para o que esses times vêm exibindo desde que o campeonato começou. 
Não sei se o América possuía grandes pretensões para o campeonato a não ser a de permanecer na série A, mas o que dizer do Atlético? Presença constante entre os primeiros colocados do campeonato quando esse era disputado em fases eliminatórias, sendo sempre o time do quase-lá, desde a adoção dos pontos corridos tem se convertido numa eterna decepção para sua torcida (é, juntamente com o Vasco da Gama, o time que mais esteve presente na zona de rebaixamento desde 2003). Sua melhor colocação foi o sétimo lugar em 2009 quando chegou a disputar o título lá pela metade do campeonato.
Relegado a uma posição subalterna no cenário nacional pela absoluta escassez de títulos importantes, o alvinegro tem em sua apaixonada torcida o seu maior patrimônio. Depois do jogo de sábado fiquei com a pulga atrás da orelha: Será que a torcida do Atlético finalmente perdeu a paciência com o time? Tomara. Quem sabe assim as coisas mudam. Não sou entendedor de futebol, mas vejo coisas óbvias, por exemplo, jogadores como Diego Souza que não fez nada no Atlético jogando um bolão no Vasco onde também brilha um ex-atleticano de nome Éder Luís. Bons técnicos também passaram por aqui e não conquistaram nada de Wanderley Luxemburgo a Cuca, passando por Celso Roth e Dorival Júnior. Isso para não falar que o clube possui a melhor concentração do país. Então o que falta para o futebol aparecer e deslanchar? Para mim o problema está em Lourdes e nas pessoas que andam ocupando o trono do alvinegro desde os anos 80.
A situação do Cruzeiro não é melhor. O time simplesmente não venceu no segundo turno e está há apenas 3 pontos da zona da morte. Segundo os entendidos o clube, comparado ao Barcelona nos quatro primeiros meses do ano, sofreu um desmanche com a venda de vários jogadores. Penso que o time celeste seja vítima de sua mania de grandeza e de suas próprias jogadas de marketing. Quem conhece minimamente o futebol sabe que o Cruzeiro de 2011 nem de longe pode ser comparado a um time como o Barcelona. O Cruzeiro brilhou no campeonato mineiro e na primeira fase da Libertadores e só. É a mesma lógica que faz com que o clube propague aos quatro ventos que é o melhor clube brasileiro do século XX. É só pensar em times como o Santos de Pelé ou o Flamengo de Zico para voltarmos à realidade, mas marketing é marketing. Talvez a auto-ilusão tenha feito com que o clube, pensando-se auto-suficiente, tenha vendido tantos jogadores importantes e os resultados estão aí.
Mas penso que o Cruzeiro não vá cair. Apesar de ser um time muito inferior ao que gostaria de ser é superior aos outros quatro que estão na zona de rebaixamento e mostrou atitude no último jogo contra o São Paulo. Já Atlético e América, para mim são casos perdidos. Uma pena para Minas.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

De volta

Manter um blog não é brincadeira. Só hoje atinei que não o atualizo desde agosto. Muita coisa de lá para cá: temporada do Cuidado:Frágil na Sala João Ceschiatti em agosto, apresentação nos centros culturais Salgado Filho e Pampulha, férias em Itacaré, greve dos bancários e leituras, muitas leituras.
Dentro em breve editarei o meu primeiro livro. Trata-se de um romance chamado "Falso Brilhante" (não tem nada a ver com o disco homônimo de Elis Regina). Trata-se das lembranças amorosas de um colunista social. É uma experiência. Estou fazendo uma revisão no texto e acertos com algumas editores. Quem sabe até o final do ano não convido todos para o lançamento.
Estou em busca de um texto teatral que me instigue no meu trabalho de ator. Tenho dedicado muito do meu tempo nos últimos dias a leitura de textos, treze ao todo e tenho outros na lista. Enquanto o texto que me encanta não vem estou densenvolvendo um trabalho de direção calcado na tragédia grega. No elenco: Yuri Simon, Jader Correa, Pauline Braga e Alice Correa com quem já havia trabalhado anteriormente em Poema do Concreto Armado e mais João Valadares que havia me dirigido no Fausto(s!). O espetáculo é para março ou abril de 2012. Darei mais detalhes assim que a coisa for andando.
Por falar em teatro fiquei sabendo que o Prêmio Sesc Sated não acabou como muita gente comentou a boca miúda. O prêmio será realizado no apagar das luzes da temporada 2011, dia 28 de novembro no Teatro Sesc Palladium. Que bom.
Já me opus a esse prêmio no passado. Não pelo prêmio em si ou pelo patrocínio do Sesc, mas pela forma como o Sated o conduzia. Veleidades e vaidades passadas. Passado. Vamos ver como ele será esse ano.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

As razões do teatro

Não sou historiador do teatro mineiro. Na verdade, o que sei sobre ele é fruto de minhas observações durante os últimos 30 anos desde que comecei a freqüentá-lo.
O primeiro espetáculo teatral que assisti foi em 1984, “Quando Fui Morto em Cuba”, no Teatro Clara Nunes (que permanece fechado sem data certa para sua reabertura). Para mim foi uma emoção. Eu decidi ver tal espetáculo a partir de um comercial da televisão. Naquela época e em outras anteriores era comum ver anúncios de espetáculos teatrais na TV, me lembro de pelo menos dois deles: “O Olho Azul da Falecida” e “Laio ou o Poder”, mas não assisti a tais espetáculos.  Acho que se espremendo um pouco a memória ouvi os ecos de “A Prostituta Respeitosa”, “As Pulgas” e “Galileu Galilei”.
Enfim. O espetáculo de Breno Milagres (Quando Fui Morto em Cuba) foi o primeiro que vi por minha iniciativa, por que de verdade o primeiro espetáculo teatral que me vem a mente é “Quem Roubou a Perna do Saci” que se apresentou na Igreja Cristo Operário no bairro Planalto em 1974. Eu tinha então 10 anos e toda a minha classe de quarta série primária assistiu. Talvez eu devesse me voltar para esse texto e montá-lo nos dias de hoje. Seria um belo retorno à minha infância, ao que ela teve de bom.
Do teatro anterior aos anos 70 o pouco que sei ouvi de Jota Dângelo em conversa no BDMG que tenho gravada. Eu pretendia escrever um artigo, um livro, sei lá sobre o teatro feito nas Gerais e decidi entrevistá-lo. A partir de 1985, então calouro do curso de Comunicação Social da PUC, fui aluno do ator Arildo Barros na disciplina de teatro. Foi quando essa arte maravilhosa se abriu para mim e passei a freqüentar com assiduidade as salas de espetáculo.
Puxo tudo isso na memória para tentar refletir um pouco sobre o teatro que tenho presenciado desde que decidi me tornar ator profissional, isto é, os últimos 20 anos. E mesmo não sabendo muito sobre a história de sua prática no estado ouso afirmar que nas últimas duas décadas me parece visível que ela cresceu demasiadamente. Talvez possamos dizer mesmo que ela viveu uma espécie de boom e pensando assim me aventuro a conjecturar alguns motivos para esse crescimento sem estabelecer uma ordem de importância.
Primeiro o mundo encolheu ou, melhor dizendo, nossa visão sobre o mundo se ampliou com a hiper-informação. Nos anos 50 os atores da geração de Jota Dângelo eram poliglotas e liam textos teatrais em várias línguas, mas também viajavam para a Europa de onde traziam as novidades. A própria revolução no teatro brasileiro processada nos anos 40 no Rio e em São Paulo (falo da montagem inicial de “Vestido de Noiva” e da fundação do TBC) foi obra de artistas europeus que se radicaram por essas bandas e trouxeram as novidades que se montava por lá. A partir da década de 90 com o advento da Internet não é mais necessário sair de casa para ter contato com o que acontece na Europa ou nos EUA, pelo menos no que diz respeito aos novos textos.
Dentro dessa perspectiva o surgimento dos diversos festivais internacionais na cidade, em primeiro lugar o FIT cuja primeira edição aconteceu em 1994, muito embora suas raízes já estivessem plantadas desde a década anterior com o festival de teatro de rua que existia por aqui. O FIT colocou a cidade no mapa mundi do teatro e nos colocou cara a cara com outras experiências. Em certa medida o FIT veio cumprir um papel que antes era destinado ao Festival de Inverno da UFMG.
Em segundo lugar diria que do final dos anos 80 para cá vivemos uma fase de maior profissionalização da profissão. Claro que o reconhecimento da profissão de ator remonta aos anos 70, mas observo que com o advento das leis de incentivo à cultura, mesmo com todos os problemas, dificuldades e limitações incrustadas em tais leis, me parece inegável que elas propiciaram um certo ganho em termos de profissionalização da produção teatral local.
E seguindo o caminho da profissionalização destaco a ampliação da Campanha de Popularização do teatro por mais problemas que ela possa ter e por mais que parte da classe artística e da intelectualidade mineiras torçam o nariz. A campanha transformou o teatro mineiro em evento popular disputado o que, pelo menos do ponto de vista econômico é bem interessante.  
E finalmente destaco a importância das escolas de teatro da cidade. Primeiramente o Palácio das Artes e o TU que nos últimos anos vêem alimentando o mercado teatral com artistas bem interessantes e em segundo lugar o curso de Teatro da UFMG que busca consolidar a necessária dimensão de pesquisa.
Há que destacar também a importância do Galpão Cine Horto como espaço para reflexão, para o contato com diversos grupos que vem de fora e pelos vários cursos e produções que tem seu patrocínio.
Esse esboço de reflexão não pretende de forma alguma esgotar esse assunto. Constatar que vivemos em um bom momento da produção cultural (mesmo com todos os seus percalços) e buscar as causas para tal momento visa, sobretudo olhar para o futuro. Reconhecer as raízes do sucesso de muitos grupos e produções é reconhecer o trabalho de várias gerações em prol desse bem comum que chamamos teatro, principalmente em tempo de escolhas políticas como a que estamos vivendo com a eleição para o Conselho Municipal de Cultura.


domingo, 24 de julho de 2011

Deus salve a diferença

No calor da hora escrevo essas linhas ainda abalado pelo que aconteceu sexta-feira na Noruega. 92 pessoas mortas por um neonazista que alegou que seu ato era cruel, mas necessário. Necessário para quê ou para quem meu Deus do céu? Para defender os valores de um suposto fundamentalismo ocidental e cristão. Eu que pensava que se existe algum tipo de fundamentalismo cristão, esse deveria ser o de um amor incondicionado ao próximo. Vai ver entendi errado e que o cristianismo que eu julgava conhecer é outra coisa muito diferente.
O monstro (não há termo que melhor qualifique esse tipo de gente) publicou um longo manifesto na internet condenando os muçulmanos e os marxistas.
Eu que pensava que o velho Marx estava morto e enterrado nos escombros do Muro de Berlim, não imaginava que seu fantasma ainda assustava o pálido ocidente apesar da China, país de partido único e economia capitalista, estar colocando em risco a soberania do mundo racional e cristão.
Eu clamo aos céus: Que medo do diferente é esse meu Deus, que tanto me afeta?
É que a mãe Europa, berço da cultura ocidental, está sendo invadida pelo micróbio árabe, dizem os mais afoitos. A nova invasão dos bárbaros pobres abaixo da linha do equador faz tremer os pilares de uma civilização milenar. E eu que não consigo entender o motivo de todo esse ódio.
A Europa sempre foi a invasora de todo o mundo. Os europeus estão acostumados a invadir e dominar outros povos desde a Guerra de Tróia. Nós das Américas e de boa parte da África e da Ásia somos todos frutos dessas invasões.  A corrente migratória sempre foi de lá para o resto do mundo apenas nos últimos quarenta anos essa tendência se reverteu, mas com a crise cada vez mais constante da zona do euro, o mais provável é que ela retorne ao que sempre foi.
Mas justo na Noruega? Justo na terra de Ibsen? Um dos países que para nós do sul do mundo sempre nos pareceu um berço de tranqüilidade, o local de uma civilização senão superior pelo menos bem mais equilibrada e racional que o resto do mundo.
Talvez resida aí o nosso equívoco. Recentemente, em sua coluna na Folha de São Paulo, o professor Vladimir Safatle comentou as declarações de um ministro dinamarquês que havia dito que eles (os dinamarqueses) eram uma tribo e gostavam de viver assim há pelo menos dois mil anos. Entendemos todos. Os nórdicos nos enganaram durante todo esse tempo. Eles são e querem continuar sendo os mesmos bárbaros de outrora. Tudo o mais é verniz. A civilização européia não passa de uma grande mentira, um escárnio lançado sobre a raça humana. Três mil anos de civilização parecem não ter ensinado nada aos europeus que já passaram pela inquisição, pelas guerras de religião, pela peste negra, por duas grandes guerras e pela infâmia maior que foi o holocausto e, bem mais recente, pela sandice que foram as guerras na ex-Iugoslávia. Parece que sempre que há uma brecha, nós ocidentais e cristãos estamos sempre prontos ao ódio infundado contra nossos vizinhos. Nos incomoda a cor da sua pele, a sua crença diferente, a sua convicção política, seu time de futebol e principalmente sua falta de recursos materiais.
No Brasil temos a registrar dois fatos curiosos que nos aproximam dessa doença européia. O ator mineiro Alexandre Sena foi agredido por policiais na cidade catarinense de Blumenau. Seu depoimento foi amplamente divulgado na internet. Triste para uma cidade turística que promove festivais de teatro de âmbito nacional e que deveria estar acostumada com a diversidade.
 “Vaza negão! Aqui não é seu lugar.” Foram as palavras dos policiais que o abordaram. Aqui não é seu lugar...Certamente o policial da alemã Blumenau considere que sua cidade de fato não faça parte desse Brasil de gente diferenciada que fala português e que votou em Lula muito em função dos programas sociais. Para ele, o policial, sua cidade como todo o sul em si nada mais são que uma extensão da boa e velha Europa preconceituosa e racista. É mesmo Xará, aquele não era o seu lugar, você não é parte desse mundo de civilização ariana. Graças a Deus.  Arianos e superiores todos são até a próxima tragédia da natureza que os irá promover à classe dos brasileiros do terceiro mundo.
Parte II: no interior de São Paulo, pai e filho foram atacados por neonazistas que os mutilaram por que pensaram se tratar de um casal homossexual. Isso me lembrou um crime mais antigo. O da morte do índio Galdino em Brasília. Queimado por animais oriundos da classe dominante da cidade que pensavam se tratar de um mendigo.  Ah sim, aos índios e mendigos é permitido dispensar tal tratamento, afinal não são humanos, como também não o são os homossexuais bem entendido. Para muitos, esses seres que gostam do mesmo sexo nada mais são que aberrações da natureza e por isso é lícito que sejam atacados e mutilados por babacas de sexualidade frustrada. E a esse coro se juntam a bancada evangélica e a frente parlamentar católica no Congresso que bloqueiam a aprovação de uma lei anti-homofobia. Reflexos de uma civilização cristã que mata adolescentes num acampamento na Noruega. Faz sentido. 

domingo, 17 de julho de 2011

E por falar em futebol...

E por falar em futebol, o Brasil deu mais um vexame ao ser eliminado nos pênaltis para o Paraguai depois de um 0x0 no tempo normal e na prorrogação. Uma constante nessa competição: em quatro jogos disputados três empates e uma única vitória. O Paraguai, atrevido na partida válida pela primeira fase da competição mostrou-se bem mais acanhado e menos disposto a acertar a meta brasileira. O Brasil foi o de sempre. Minto, demonstrou mais vontade de chegar ao gol adversário, mas o excesso de estrelas que não são estrelas, o excesso de firulas e a absoluta falta de objetividade aliada a um técnico que depois de um ano no cargo ainda não disse a que veio. A escalação para as cobranças de pênaltis foram a expressão mais viva da absoluta incompetência desse técnico para conduzir a seleção que ele diz treinar e o resultado foi o que se viu: quatro cobranças perdidas sendo que apenas uma defendida pelo arqueiro guarani. Outras três chutadas pelos ares me lembrando uma fatídica decisão de título brasileiro em março/78 no Mineirão.
Como torcedor de futebol penso que nós brasileiros podemos ir nos preparando para futuras decepções. Se continuar como está caminhamos para repetir a África do Sul de 2010 (única seleção anfitriã a ser eliminada logo na primeira fase). Todas as reportagens e denúncias parecem apontar para algo muito sério: A CBF e seus dirigentes parecem pouco interessados no destino do futebol brasileiro em si. O que os move é tão somente a ânsia desenfreada pelo lucro, o que aliás a FIFA parece fazer muito bem.
Como torcedor penso que primeiro deveríamos nos livrar desses técnicos gaúchos que vêm monopolizando o comando da seleção na última década e não vai aqui nenhuma restrição ao povo do sul, longe disso. Mas francamente, à honrosa excessão representada por Felipão que tinha à sua disposição bons jogadores como os dois Ronaldos e Rivaldo dentre outros, não precisamos de técnicos como Dunga ou Mano Menezes. O problema é que não existem muitas boas opções no mercado e, ao gosto dessa turma que dirige o futebol brasileiro, podem retornar figuras como o Parreira...brrr, Deus nos livre.
Em segundo lugar temos que dizer a Neymar, Ganso, Pato e outras aves de vôo curto que eles são craques nos times em que jogam, na seleção brasileira ainda não são bosta nenhuma e correm o risco de não o serem se continuarem jogando o que jogam.
Como cidadão penso que o poder público deveria intervir de alguma forma nos destinos do futebol antes que seja tarde. Principalmente levando-se em conta que é essa turma que está organizando a copa de 2014 com recursos que não são nem da CBF e muito menos da FIFA.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Volta ao lar

Amanhã, se Deus quiser, estarei de volta a BH depois de três semanas em Goiânia. Foram três semanas intensas e nem deu para conhecer a cidade direito, mas dei algumas voltas. Goiânia é uma cidade diferente de todas as outras que conheci, mas apesar disso a sensação de estar em casa é grande. Parece mesmo que Goiás é uma extensão de Minas, não um outro estado. O curso foi bom. Conheci pessoas interessantes, aprendi coisas que não suspeitava (outras nem tanto), acho que deixei coisas positivas nas pessoas que conheci, mas devo confessar que me decepcionei muito no final. Coisas da vida.
Ficar longe de casa, longe da família e dos amigos nos faz valorizar o que temos de bom e amigo junto de nós.
Na próxima segunda-feira, 18 de julho, estarei em Ouro Preto apresenanto o espetáculo Fausto(s)!. É sempre bom voltar em cartaz. Mefistófeles me fez feliz no palco. Me senti grande. É lógico que a personagem ajuda, mas também há o dedo do diretor, meu amigo João Valadares, e a expressiva contribuição dos colegas de cena.
Cuidado:Frágil! fará em breve uma série de apresentações nos centros culturais de Belo Horizonte.
E Sérgio Abritta está escrevendo um texto para ser montado por da Cia da Farsa. A pretensão é estrear ainda esse ano. Tamo que tamo.

domingo, 3 de julho de 2011

Notícias

Estou em Goiânia fazendo um curso pela Caixa. É uma cidade bonita. tem ruas e avenidas largas, muitas praças, muitos prédios e carros. Como é julho não está fazendo tanto calor. Um clima ameno. É uma cidade limpa, vi poucos pedintes. Não conheço o transporte coletivo, pois só andei de táxi ou a pé. O Parque Buritis é muito agradável. Parece que corre muito dinheiro na cidade. É como diz o poeta: O Brasil não é só litoral, é muito mais que qualquer zona sul. É muito bom olharmos para o interior do país e descobri-lo, por mais que, pecado desse mundo globalizado, muitas coisas (senão a maioria) sejam muito parecidas com o que vemos em outros lugares.
Ontem teve teatro. A Cia de Comédia "Os Melhores do Mundo" se apresentou no Centro de Convenções que fica em frente ao hotel onde estou hospedado. Todo mundo gosta, eu sou um pouco reticente. Vi um grande sucesso do grupo em BH, "Hermanoteu na terra de Godah". Não sei se por ter visto muitas coisas deles no Youtube, achei muito fraco. Já o que vi ontem, "Tira: Codinome Perigo", achei bem mais engraçado. Eles usam o esquema de sempre fazendo piadinhas com os times locais e com figuras políticas da região. Mas o espetáculo tem um grande achado ao fazer piada com o juiz goiano que, desrespeitando a decisaão do STF, proibiu um casamento homoafetivo. Um caco bem achado e bem encaixado numa cena de julgamento. A platéia vem abaixo. O espetáculo é uma sátira aos filmes policiais americanos. Tem momentos impagáveis, outros muito próximos do "Zorra Total", sem falar que eles jogam o tempo todo para a platéia o que teatralmente falando considero um pouco pobre. Mas é uma boa diversão. Falta ver alguma coisa do local. Vou procurar, afinal vou ficar por aqui até o dia 16. No dia 18 estaremos em Ouro Preto apresentando "Fausto(s)!" no festival de inverno e a Cia da Farsa ( a que pertenço) está se preparando para o novo espetáculo com texto que está sendo escrito por Sérgio Abritta. Estamos todos na espectativa.
Itamar Franco morreu. Apesar de não ser seu eleitor (minto: votei nele no segundo turno da eleição para governador de 1998) reconheço sua importância. Assumiu o lugar do Collor depois do impeachment e segurou o país num momento de grave crise institucional. Também foi o presidente que assinou o Plano Real. Na época, como bom militante petista, critiquei o plano a torto e direito. Depois de tanto tempo é impossível negar seu valor. Afinal, a hiper-inflação não voltou desde então. Mudamos todos.
Agora é aguentar o presidente do Cruzeiro como novo senador por Minas. Paciência.
E por falar em política penso que deveríamos começar a construir uma alternativa viável para disputar a prefeitura de Belo Horizonte ano que vem. Não sei o que pensam, mas eu não estou disposto a votar nas opções que estão por aí. PT inclusive.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Ítalo Mudado

A classe artística de Belo Horizonte perdeu um de seus maiores expoentes. Nada mais contraditório para apresentar o grande mestre de muitas gerações de atores e diretores que foi Ítalo Mudado. Um expoente? Logo ele que era avesso à fama? Professor aposentado do Teatro Universitário da UFMG, professor de língua portuguesa e literatura no antigo Colégio de Aplicação, professor do antigo TESC, da escola Skéne/Sesc, mentor do Grupo Intervalo, enfim. Ítalo formou ao longo dos últimos 50 anos centenas de atores que passaram pelos palcos de Minas Gerais e de lá para o mundo. Sempre apegado aos clássicos, eterno amador, seu último suspiro foi dado na quarta-feira 22 de junho véspera de feriado. Não tive a honra de ser seu aluno. Segue um caminho bem diferente de muitos de meus companheiros de palco da cidade, mas desde que fiz amizade com vários integrantes de seu Grupo Intervalo acompanhei alguns de seus trabalhos. Fomos colegas na escola de teatro Skéne/Sesc por cinco anos, ele dando aula de história do teatro e eu de literatura dramática. Quando assumi as aulas ele me recebeu gentilmente em sua casa e traçou comigo as coordenadas da disciplina que eu estava prestes a encarar. E a generosidade? Lembro com carinho do dia em que ele foi assistir ao espetáculo de minha companhia "Auto da Compadecida" e depois fez questão de ir aos camarins para nos felicitar.Ele havia adorado o espetáculo.
Ítalo vai fazer falta. Muita. Quem além dele seria capaz de montar textos de Sófocles, Machado de Assis, Joaquim Manuel de Macedo, Maquiavel e tantos outros monstros sagrados do passado?
Penso que o Grupo Intervalo não deveria desaparecer.  Ele deve continuar a ser animado por todos aqueles que passaram pelas habéis mãos do mestre com os mesmos propósitos cultivados pelo grande professor.
Com tantas salas de espetáculo por inaugurar na cidade, penso que também deveríamos fazer uma campanha para dar a uma delas o nome do grande mestre: Sala Ítalo Mudado. Quem se anima?
BH perdeu mais um grande nome do teatro em 2011 e o céu ganhou mais uma estrela brilhante.
Salve Ítalo, grande mestre.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Prêmios

No texto postado anteriormente eu havia dito que iria falar do Prêmio Usiminas/Sinparc que chegou a sua 8ª edição (o prêmio mesmo começou em 1996, mas com outro nome). Meio estranho falar do prêmio em função mesmo de fazer parte dele como membro da comissão de teatro infantil, mas é inevitável comentar.
Os prêmios são sempre os mesmos. Uns lhe dão confiança, outros não. É uma pena. Penso que um evento como a premiação para os destaques do ano deveria ser um momento de união da classe artística. Claro que é difícil. Nosso espírito competitivo nos faz muitas vezes olhar com desdém e certa inveja para os colegas que foram indicados e/ou premiados. Mas não deveria ser assim. O barco do teatro é o mesmo e estamos todos nele. Deveria ser uma alegria vermos um colega de trabalho de quem gostamos estar indicado para um prêmio qualquer. Devia.
Senti a falta de muitos artistas importantes na platéia.  Parece que muitos colegas só dão as caras quando estão concorrendo. É uma pena.
O prêmio voltou para o Teatro Oi Futuro local onde começou. Tenho boas recordações. A primeira vez que fui indicado, em 1997, a cerimôni foi nesse teatro. Em 2003 estreamos A Farsa da Boa Preguiça no mesmo espaço. Agora, quase vinte anos depois, não sei se foi um bom retorno. Sei que faltaram alternativas para o Sinparc já que, ao que parece, o Grande Teatro estava sem pauta, o Sesiminas em reforma e o Sesc – Palladium...bem, esse só Deus sabe quando.
Em função do espaço pequeno os convites foram limitados e, pecado da organização, muita gente ficou de fora, indicados inclusive. Com quase vinte anos de estrada organizando o prêmio o Sinparc já deveria ter juntado bagagem suficiente para tornar o prêmio impecável, mas não é o que se vê.
Quanto à festa não foi das melhores. Poucas emoções, as surpresas nas premiações (houve surpresas?) não chegaram a empolgar a galera. Estavam presentes as claques de sempre torcendo para os seus respectivos espetáculos, mas não houve empolgação. Emoção mesmo somente na homenagem prestada aos falecidos Leleo Scarpelli e Zeca Santos, lembrados na bela voz de Katia Couto e no som da banda Suvaca de Vó. No mais...
Os discursos de agradecimento não fugiram a regra. Exceções feitas ao depoimento/desabafo do diretor e produtor Kleber Junqueira, premiado pela melhor cenografia do espetáculo Bent  ao relatar que se encontra impossibilitado de voltar a apresentar seu espetáculo em função dos direitos autorais estarem retidos por um grupo carioca e do ator e figurinista Paolo Mandatti, premiado por A Última Canção de Amor Desse Pequeno Universo, suscinto e irônico (e muito divertido), salvou a noite da chatice.
Entre os demais premiados. Vou dizer que acho que a comissão infantil da qual faço parte fez um bom trabalho ao premiar “Homem Voa?” da Catimbrum Teatro de Bonecos. Foi um ano particularmente pobre em produções infantis, apenas 10 concorrentes sendo pelo menos quatro espetáculos de animação. Os bonecos esse ano capricharam na produção e foram reconhecidos com justiça. Fiquei feliz também em premiar o professor, diretor e dramaturgo Fernando Limoeiro pelo texto de “Tropeiros e Cantigas”. Justo.
Minha amiga e companheira de estrada Sidneia Simões não ganhou. Uma pena. Ela tampouco conseguiu entrar na festa, foi uma das barradas no baile apesar do convite com lugar marcado.
Fausto(s!), injustiçado por ter tido apenas 2 indicações levou afinal o prêmio de melhor iluminação.
Meu amigo Leo Fernandes também venceu o troféu de atuação masculina por “Esperando Godot”. Ele poderia ter sido indicado igualmente por “Nossa Cidade” onde também está muito bem. Não vi os demais trabalhos, mas acho que o prêmio ficou em boas mãos.
Por fim, “Nossa Cidade” ganhou os prêmios de espetáculo e direção. Acho um bom espetáculo e confesso que vi pouca coisa em função de estar permanentemente em cartaz ou ensaiando. Acho que Wilson Oliveira é um diretor consistente que escolhe bons textos e sempre nos apresenta espetáculos de qualidade. Sei também do trabalho e das dificuldades que foi para o Grupo Teatral Encena montar um espetáculo de tal envergadura praticamente sem patrocínio, mas penso também que a comissão poderia ter escolhido um espetáculo um pouco mais ousado quanto a sua linguagem.
Enfim.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Amanhã

Amanhã teremos o prêmio Usiminas/Simparc para os melhores do teatro e da dança de 2010. Como todo prêmio, há sempre muitas divergências e as injustiças são inevitáveis. Muita gente boa (ou interessante) fica de fora e outras (para alguns) nem deviam estar lá. Mas essa é a essência dos prêmios. Não há um prêmio para teatro, cinema ou seja lá o que for que não gere polêmicas. Esse ano, um dos mais prestigiados prêmios literários americanos premiou o também prestigiado Philipp Roth e ouve muita chiadeira. Normal. No passado eu também me envolvi numa polêmica desse tipo, mas o tempo passa, a gente amadurece e afinal acho que nem vale tanto a pena se bater por isso.
Prêmios são importantes porque são um reconhecimento de nosso trabalho por, a princípio, gente que conhece e entende do nosso trabalho. É bom ser indicado e ganhar, mas não ser indicado ou não ganhar também não é o fim do mundo e rigorosamente não prova nada. Querem ver?
Em 1999 a atriz Gwyneth Paltrow levou o Oscar de melhor atriz derrotando feras como Meryl Streep, Cate Blanchet e a nossa Fernanda Montenegro. Shakespeare Apaixonado (que é um filme bonzinho) derrotou filmes como Além da Linha Vermelha e O Resgate do Soldado Ryan. Isso para não falarmos de Cidadão Kane, talvez o maior injustiçado da história dos prêmios artísticos. Quem conhece e/ou curte cinema sabe o que estou dizendo.Mas é isso aí.
Parece que o prêmio Usiminas/Sinparc será o único prêmio teatral desse ano já que até agora (e já estamos no meio de junho) nada se disse sobre o prêmio Sesc/Sated. Ouvi boatos de que o patrocínio para o prêmio do Sated acabaou. Semana passada enviei um e-mail para a presidente do Sindicato que não me respondeu.
Enfim.
Estou na comissão do prêmio infantil e espero que façamos um bom trabalho amanhã. De dentro da comissão acho que as indicações foram bastante coerentes e, na medida do possível, ninguém ficou prejudicado. (É o que eu penso).
Como artista estarei na torcida pela atriz Sidneia Simões que concorre como coadjuvante por Cuidado:Frágil, produção da nossa companhia. Apesar de todos os obstáculos considero uma vitória a indicação da Sid. Desde que começamos a fazer teatro profissional em 1996 sempre emplacamos indicação para algum prêmio. O único espetáculo nosso que não foi indicado para nada foi Retrato Falado. E nesses 15 anos já emplacamos 5 indicações para melhor espetáculo com uma vitória. Nada mal, não acham?
Também estou na torcida pelo espetáculo Fausto(s)! que concorre nas categorias de direção para o João Valadares e iluminação.
Dentre os atores minha torcida vai para meu amigo Leo Fernandes que além de amigo é um grande ator, mas se o Camilo Lélis vencer eu não ficarei triste. Camilo é também um grande ator e um ótimo companheiro de cena. Vamos lá.
Na quinta volto a escrever sobre o prêmio.

domingo, 12 de junho de 2011

Estou tendo problemas para postar minhas mensagens no blog. Espero regularizar logo. Por isso o texto abaixo só foi postado agora, mas ainda acho que vale a pena. É um pequeno tributo a um ícone da música. Posso dizer sem sombra de dúvida que Fui ao show da minha vida...

Sim. Palavra de fã. Dia 23 de maio, uma segunda-feira com cara de feriado (feriado para mim), no estádio do Engenhão que eu nunca havia ido para ver futebol, mas para ver e me emocionar com um dos meus ídolos da música, talvez o maior deles: Paul McCartney: Up and Coming Tour.
Um show para não esquecer. Como esquecer?
Foram duas horas e quarenta minutos de show e mais de 30 músicas.
Foram quase três horas ouvindo pérolas do imortal quarteto de Liverpool como “Let it be”, “Eleanor Rigby”, “Day Triper” e “Get Back” mesclados com rits de sua carreira solo como “Jets”, “Band on the run”, sem falar no show de fogos que acompanhou “Live and let die”.
Uma bela e delicada homenagem a George Harrison ao som de “Something”.
O que dizer quando se assiste a uma das lendas vivas da música? Quando ouvimos sua voz, seu português carregado de sotaque, sua simpatia e, mais importante, sua majestosa arte?
Que noite!
Um colunista (ou crítico sei lá) da Folha disse que o final do show é uma festa, quase uma missa (no que acertou no ponto porque uma experiência dessas é quase mística) e ouvir numa mesma noite “Let it Be”, “Yesterday”, “Hei Jude” e “Get Back” beira a overdose. Sim, uma overdose de boa música(como Roma e Florença são overdoses de beleza plástica)
Somos todos filhos do rock, dos anos 60. Não temos idade. A arte nos une, desde adolescentes de 13, 14 anos a representantes da melhor idade. O som da maior banda de todos os tempos toca todos.
Bonito também foi ver a massa descer as rampas do Engenhão ao final do show, já avançando pela madrugada, cantarolando como um hino o refrão de “Hei Jude”. Para não esquecer.
Posso dizer de consciência tranqüila que, apesar de meu apego à MPB, de já ter visto shows memoráveis como o do falecido (e pouco lembrado) Taiguara no dia 7 de setembro de 1985 ou do encontro de Maria Bethânia e Omara Portuondo, que o show de Paul McCartney foi o show de minha vida.
Custei um pouco a descobrir os Beatles. Quando eles se separaram eu tinha apenas 6 anos e o primeiro aparelho de som lá de casa foi adquirido muito mais tarde. Lembro que um dos primeiros discos que comprei foi “Give my regards to Broad Street” em que despontava o sucesso “No More Lonely Nights”, disco que tinha a participação de Ringo Starr. Mas depois que descobri a paixão foi inevitável.
Grande Paul. Que a vida ainda lhe reserve muitos anos e muita saúde e disposição para novos shows. E que os novos shows tragam sempre as velhas e boas músicas imortais.
P.S: Gostei do Engenhão. É um estádio bonito, moderno, parece uma nave espacial. Mas fica um pouco mal localizado. É verdade que tem a conveniência de estar situado defronte a uma estação de trem, mas ele não fica bem no meio de um bairro populoso, com ruas estreitas que dificultam o trânsito de pessoas e carros.
Também o achei visualmente poluído: propagandas de patrocinadores em demasia.
Mas se mostrou um bom templo para boa música. Quanto ao futebol...

segunda-feira, 16 de maio de 2011

A natureza e seus heróis

Fui assistir ao filme Rio. É uma divertida animação, olhares americanos à parte (o diretor é brasileiro). Enquanto a sessão não começava fiquei flanando pelo shopping e deparei com uma loja de roupas cuja propaganda estampava os dizeres em inglês: Nature needs heroes.  Na foto um jovem se atirando em um precipício para salvar a mãe natureza de uma indesejável garrafa pet. Lembrei-me que já havia assistido ao comercial na TV. Comercial perfeito: jovem trajando jeans, natureza, texto em inglês... Sim, nossas lojas localizadas na zona sul assumiram a língua de Shakespeare como língua oficial. Não é raro nos depararmos com anúncios 40% OFF  (liquidação) ou SALE. Faz sentido. Vivemos num mundo colonizad... Perdão, globalizado e nossas classes A e B certamente se sentem bem mais a vontade numa língua diversa da falada pela gente diferenciada.
Mas voltemos ao anúncio original. O informe publicitário dizia em bom português que os produtos da coleção em questão eram feitos com materiais recicláveis. Nada mal para nossa consciência de consumistas inveterados. Fiquei pensando nos heróis de que a natureza precisa.
Reciclar é preciso. Não é novidade para ninguém que a humanidade produz milhões de toneladas de lixo por ano. Não sei a cifra certa, mas sei que é muito grande. É ponto pacífico que não existem recursos suficientes no planeta em que vivemos para esse consumo alucinado em que nos lançamos nos últimos cem anos. Dentro dessa ótica qualquer linha de produtos reciclados é muito bem vinda.
Do mesmo modo que produzimos tanto lixo lançamos à atmosfera uma quantidade de gases que, segundo insuspeitos ambientalistas, estaria provocando o chamado efeito estufa responsável pelo aquecimento global. Anos atrás, o democrata americano Al Gore, candidato derrotado nas eleições presidenciais de 2000, produziu o premiado documentário “Uma Verdade Inconveniente” em que alerta sobre os efeitos do aquecimento global.
Tempos atrás também, camarada Danilovsky, colega dos tempos de jornalismo e doutorando em economia pela Unicamp, me dizia que todo esse papo de aquecimento global é balela e que, ao contrário, estaríamos vivendo o prenúncio de uma possível nova era glacial e não um aquecimento. Teoria conspiratória poderão pensar muitos. Mas o fato é há não muito tempo atrás, o climatologista Luiz Carlos Molion em entrevista ao programa Canal Livre da TV Bandeirantes disse coisas parecidas.
Sem nenhum embaraço o cientista afirmou que o CO2 não é o vilão que pensamos que ele seja. Pelo contrário, as plantas precisam do gás carbônico para viver e que a Terra passa por períodos de aquecimento e esfriamento regulares e se está em curso um processo de aquecimento do planeta ele não é necessariamente provocado pelo homem.  Se é verdade que a Terra está se aquecendo, que os pólos estão derretendo e que com a subida dos mares cidades como Nova York e Rio de Janeiro irão simplesmente desaparecer sob as águas, por que Al Gore teria comprado a peso de ouro uma mansão à beira mar na Califórnia? Provocou o cientista.
O discurso sobre o aquecimento global seria então uma tentativa das potências industriais em frear o crescimento do terceiro mundo. Faz sentido. Já ouvi vários analistas dizerem que nos últimos dez anos os americanos ficaram tão obcecados em combater o terrorismo que teriam se esquecido de observar o desenvolvimento industrial de alguns países, China à frente.  Lembremos também que os EUA não assinaram o protocolo de Kyoto.
Em determinado momento da entrevista, um jornalista perguntou sobre o gás CFC responsável pelo arrombamento da camada de ozônio. Luiz Carlos Molion disse que tal afirmativa não é verdadeira e que o problema do CFC era meramente econômico. Sua patente estava com os dias contatos. Iria cair em domínio público, ou seja, as empresas não teriam mais a necessidade de pagar royalties para utilizá-lo. Se existia alguma preocupação ambiental embutida na campanha contra o gás ela era certamente secundária.  Nunca podemos perder de vista que vivemos num sistema capitalista e que o coração desse sistema responde pelo nome de lucro.
E o lucro muda de face. Especiarias, pau-brasil, cana de açúcar, ouro, manufaturas, minerais, programas de computador ou pensamento. Tudo é lucro. A sobrevivência do capitalismo reside em boa medida na sua capacidade de reciclar o que considera lucro e a propaganda é alma de seu negócio.
Nature needs heroes. Sim, a natureza precisa de heróis e consumir produtos feitos com material reciclado talvez apazigúe um pouco a nossa consciência. Como naquela fabula do homem que toda a manhã ia para a praia salvar as estrelas do mar perdidas devolvendo-as para o oceano. Se cada um fizer a sua parte...
Mas é que sou um chato e fico pensando até que ponto essa conversa não seja ao final das contas mais um golpe publicitário. Como disse linhas atrás, o capitalismo se recicla a tal ponto que consegue fazer da própria contestação ao sistema um objeto de lucro (até o estilo de vida hippie se transformou em algo consumível). Talvez o verdadeiro herói desejado pela natureza não seja o que consome artigos feitos de material reciclado, mas simplesmente o que diz não ao próprio consumo. Tarefa deveras difícil.

domingo, 15 de maio de 2011

Bravíssimo!!!

Sou ator e diretor de teatro e me orgulho disso. Isso não é novidade. Quando pensei nesse blog alguns colegas me cobraram que fizesse crítica teatral. Não sei. Acho complicado estar nos palcos e ao mesmo tempo criticar meus colegas. Uns acham que não. Eu continuo achando que sim. A crítica de teatro em Belo Horizonte acabou dizem muitos. Um ou outro crítico que se dispõe a ver e a tentar estabelecer um diálogo efetivo com a obra de arte (que deveria ser a função primeira do verdadeiro crítico), no mais acabou... Bem, concordo, mas ainda não estou disposto a fazer crítica. O que quero  deixar aqui é um depoimento.
Sou ator e diretor de teatro e me orgulho disso. Me orgulho sobremaneira por que o meu primeiro professor de teatro foi o ator Arildo Barros do Grupo Galpão e é sobre esse grupo que eu quero falar.
Elogiar o Galpão é redundante. Todos fazem isso. O Galpão estabeleceu um padrão de qualidade difícil de ser acompanhado por quem faz teatro em Minas Gerais. Não quer dizer que todos seus espetáculos sejam maravilhosos. Exigir a perfeição em cada obra é tarefa difícil até para o mais genial dos mortais. Mas não podemos negar que todas as suas produções têm uma qualidade que os diferencia.
Tudo isso para dizer como me senti tocado pela mais recente produção do grupo, o espetáculo “Tio Vânia (aos que vierem depois de nós)”. Tenho uma relação pessoal com o texto. Em 2008 tentei montá-lo com um nascente grupo que havia me convidado. Não deu certo. Tchékhov não é um autor fácil de ser abordado. Exige um entendimento profundo de seu texto, tarefa difícil para artistas pouco maduros.  Mas o processo não deslanchou por outros motivos, por questões de relacionamento entre os integrantes do grupo (também uma questão de maturidade), penso, porém que foi melhor não tê-lo montado.
Diz a lenda que Tchékhov zombava do caráter dramático que atribuíam às suas peças. Diz-se que ele as considerava comédias e não dramas. Sim, Tio Vânia é uma comédia, mas uma comédia amarga. E o Galpão soube lê-la magistralmente sob esse prisma. Não há tom formal nos atores. Todos flanam por seus personagens dando-lhes leveza e ao mesmo tempo a necessária densidade. Rimos de suas vidas absurdas para nos emocionarmos na cena seguinte com seus dramas.
 Por exemplo, temos o médico Astrov que abre a peça com reflexões sobre sua pessoa nos remete a um tom mais sóbrio e melancólico. Eduardo Moreira soube, porém dar-lhe um colorido mais despojado. Seu Astrov ri de si mesmo, não fica encarcerado numa melancolia fácil. Um tom presente em várias personagens. O ator Paulo André, que interpreta Teléguine (a montagem optou por fundir dois personagens existentes no original de Tchékhov, a baba e Teléguine, em um só personagem), é capaz de mostrar todo o dilema de seu personagem, seu passado, presente e futuro, numa simples caminhada. Na belíssima cena em que atravessa o palco recolhendo as bacias deixadas ao longo da casa durante a tempestade. Ele não diz uma palavra. Limita-se a caminhar e recolher as bacias e sabemos de tudo o que se passa e se passou com ele e tudo nos toca.
Muitas personagens que eram enigmáticas para mim quando tentei montar o texto, me pareceram absolutamente mais claras assistindo a montagem do Galpão. Helena por exemplo, a bela e sedutora mulher de Serebriákov, musa que desperta o desejo de Tio Vânia e Astrov. Numa montagem carioca dos anos 80 tal papel foi desempenhado por Cristiane Torlone. Podemos imaginar a partir disso qual o perfil da personagem. Fernanda Viana, no entanto nos mostrou uma Helena absolutamente leve. Não é uma diva inalcançável, mas uma mulher/menina que brinca, que dança, que sonha, que ri, enfim. Sua beleza emana da simplicidade. Na cena em que Helena e Sônia conversam, a enteada lhe pergunta: - Helena, você é feliz? Ao que ela responde: - É claro... Que não! E sua negativa é acompanhada por um riso gostoso que nos faz pensar o quanto não fazemos um desnecessário drama com nossos próprios sentimentos.
Não vou falar de todos os atores. Direi que não há interpretações destoantes, algo que nos tire o fôlego, mas inegável que Paulo André e Mariana Muniz nos tocam com mais veemência. Mas isso não é absolutamente necessário. Os sete atores formam um grupo coeso que funciona para o espetáculo. 
Não poderia deixar de falar dos cenários de Márcio Medina, da luz de Pedro Pederneiras e trilha sonora e música de Dr Morris e lógico, do brilhante trabalho de direção de Yara de Novaes. Para mim na há surpresa, Yara, uma grande atriz está se transformando a cada dia em uma grande diretora. Já havia percebido isso em Noites Brancas e depois em O Caminho Para Meca. Seu Tio Vânia é, sem dúvida, a grande coroação desse novo caminho.
Há espetáculos que com cinco minutos já sabemos se serão bons ou ruins.
E há espetáculos que com cinco minutos já nos dão a sensação de estarmos presenciando o desenrolar de uma verdadeira obra prima. É o caso de Tio Vânia para mim. Ele nos toca não porque tem um texto maravilhoso, mas porque o conjunto de atores e encenação revela o que de maravilhoso existe no texto.

O Público

Título de um texto surrealista de Lorca que quase tivemos o desatino de montar quando alunos do CEFAR/Palácio das Artes lá pelo ano de 1994... Mas isso é uma outra história.
Mas o que gostaria de comentar aqui é a questão do público mesmo, do público de teatro essa esfinge difícil de decifrar. Desde que me entendo por ator ouço queixas e também me queixo de sua ausência nos espetáculos durante as temporadas normais ao longo do ano. A constatação mais óbvia é que o público de teatro de Belo Horizonte se concentra durante a Campanha de Popularização que, para muitos de seus críticos contribui para retirá-lo das salas de espetáculo durante o resto do ano, por que esse mesmo público estaria acostumado a só freqüentar o teatro nos meses de janeiro e fevereiro, etc.
Fico pensando até que ponto essa afirmação é válida. Certa vez ouvi Bosco Brasil (autor de Novas Diretrizes em Tempos de Paz) dizer em um debate na Sala João Ceschiatti que vivemos numa era de eventos. Os eventos sim atraem público. Vejam, por exemplo, o FIT. O Festival de Teatro de Belo Horizonte sempre foi um sucesso de público desde sua primeira edição. Mas será que podemos dizer que ele efetivamente forma público na cidade? Se ele forma então onde está esse público que não aparece durante o resto do ano?
 Ao compararmos um evento com outro temos que admitir que estamos falando de públicos diferentes. O público do Festival estaria em sintonia com determinado tipo de espetáculo mais investigativo ao passo que o público da Campanha seria eminentemente popular baseado no cardápio que é oferecido a ambos: no primeiro caso espetáculos que fazem pensar e no segundo comédias rasteiras que abusam do fator homossexual como elemento proporcionador do riso.
De fato, se olharmos a relação dos espetáculos apresentados na Campanha teremos pelo menos 60% de comédias que de quebra ocupam invariavelmente os dez primeiros lugares entre os espetáculos mais assistidos. Mas tal fato não é exclusividade de Belo Horizonte. O FRINGE, mostra paralela do prestigiado Festival de Teatro de Curitiba, também apresenta em sua grade de programação um grande número de peças do gênero. Na edição desse ano foram nada menos que 85 comédias vindas de todos os cantos do país.
Talvez o problema não seja propriamente a comédia em si (ou será que é?), mas o tipo de comédias que são apresentadas. De fato e falo isso por experiência, pois já fui membro da comissão do teatro adulto do prêmio Usiminas/Sinparc por dois anos consecutivos, existem muitas produções que são feitas a toque de caixa com o único objetivo de serem exibidas durante a Campanha, mas tais espetáculos não se tornaram sucessos de público. Alguns tiveram públicos razoáveis, mas sucessos...
Mas existem outros espetáculos que se apresentam na Campanha que não são comédias e dou dois exemplos que vivenciei esse ano: Fausto (s!) e Cuidado: Frágil! Ambos foram bem sucedidos. Obviamente dentro de uma outra realidade. Fausto(s!) teve praticamente todas as suas sessões esgotadas. Claro que foram apenas 6 funções dentro da Funarte que teve seu público limitado a 70 pessoas por sessão. Assim é fácil pensarão alguns. Mas na sala ao lado esteve em cartaz durante todo o mês de janeiro uma montagem paulistana de “Mão na Luva” que foi um fracasso de bilheteria, prova de que o público que freqüenta a Campanha também se interessa por outro tipo de espetáculo, mesmo que só uma fração desse público.
Voltando as comédias tendo a pensar que a grande implicância que muitos de seus críticos tem com o gênero dirigi-se ao riso em si, como se ele fosse algo imoral, feio ou politicamente incorreto. Não qualquer riso, claro. Mas o riso distribuído a farta nas comédias popularescas que são o grande motor da Campanha. O público, como dizem muitos, estaria sendo deseducado por esse tipo de espetáculo.  Talvez fosse necessário medir o impacto do teatro besteirol na formação de opinião do público médio de teatro e sua influência na educação, tarefa que deixo para sociólogos e educadores de plantão.
Me parece que as pessoas em geral não nascem indo ao teatro para ver o Espírito Baixou em Mim. Se há uma forma de comunicação que nos dias de hoje nos acompanha desde o mais tenro berço, ela é sem dúvida a televisão. Mas também apostar todas as fichas no papel educativo ou deseducativo da televisão seja um pouco injusto, pois estaríamos atribuindo um papel secundário aos pais e a escola. Talvez o problema do teatro seja realmente um problema de educação, mas da educação tomada no seu todo.
O cardápio oferecido ao público consumidor também influencia, lógico. Muitos objetarão que determinados artistas só montam comédias para ganhar dinheiro, só oferecem isso ao respeitável público. Sim e não. Esse texto não pretende ser uma defesa da Campanha de Popularização, deixo essa incumbência para o Sinparc, mas fico pensando até que ponto esse tipo de afirmação possa ser válido. Primeiro: qual o problema existente no fato de determinados artistas só se interessarem em montar comédias para ganhar dinheiro? Acaso não somos artistas de profissão e tentar tirar nosso sustento do que oferecemos ao público não é lícito? Segundo: acaso o público não tem liberdade de escolha ou devemos tomá-lo apenas como gado?
O que fazer, por exemplo, com um espetáculo como o Espírito Baixou em Mim? Trata-se de um fenômeno de público difícil de entender (e muito fácil de odiar). Sucesso absoluto na Campanha há pelo menos dez anos consecutivos vendendo quase sempre mais do dobro de ingressos que o segundo colocado. Conheço uma pessoa que o assiste todos os anos. A culpa então é do público, essa esfinge indecifrável?
Voltamos ao problema do começo desse texto. Por que o respeitável público não comparece com assiduidade durante todo o ano? Vários problemas são listados: baixa qualidade de muitas produções, falta de profissionalismo de muitos produtores, necessidade de repensar o posicionamento do produto teatro no mercado, salas de espetáculos precárias, violência urbana, concorrência de outros meios de entretenimento (cinema, televisão, internet), projetos bancados por grandes empresas que, por serem gratuitos, desestimulam a busca pelo ingresso pago, burocracia dos órgãos públicos, carência de verdadeiras políticas culturais, nossa natural inaptidão para ouvir críticas, enfim.
Mas temos o caso dos artistas que tem seu público cativo. Cito três exemplos: O Grupo Galpão, Carlos Nunes e a dupla Ílvio Amaral/Maurício Canguçu. Fui assistir ao espetáculo Tio Vânia no último dia 13 de maio e fiquei na lista de espera. O espetáculo está lotando todos os dias. Isso só para termos um exemplo. Existe um público fiel que acompanha esses artistas. Cabe a nós outros descobrirmos esse segredo e corrermos atrás.
Tenho para mim que o teatro deveria buscar um contato mais direto com o público, que ele se tornasse uma necessidade cultural da população (como por exemplo, o é a telenovela) e penso que uma solução para isso seria sair de nosso confortável limbo (penso que temos muitas dificuldades em enxergar para além dos limites da região centro - sul e das benesses proporcionadas pelas leis de incentivo) e procurasse ir onde o povo está.
Mas convém nesse caso ouvir primeiro o próprio público.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

O terrorista, o santo, o príncipe e sua esposa

Parece título de filme, mas não é. No mundo de hoje muita coisa aparenta ser o que não é, como numa antiga propaganda de xampu dos anos 80. Um mundo de simulacros. Yes, we can. A imprensa ávida por notícias que possa requentar por toda uma semana. O mundo precisa de novidades, mas o que há de novo sob o sol?
Primeira parada: o casamento do príncipe. No começo dos anos 80 todas as TVs do mundo pararam para transmitir o casamento do príncipe Charles com Lady Diana Spencer.  Na época soou como novidade. Tudo era um pouco novo naquele Brasil da abertura, até um casamento real transmitido ao vivo e a cores. Mas os tempos eram outros. O príncipe era o herdeiro do trono inglês e sua noiva possuía um carisma tão grande que logo, logo se transformou na principal estrela da monarquia britânica atraindo a simpatia de todos os que fazem o carnaval por lá: cantores, mulheres e bichas.  Tinha início a “Idade Mídia” (início para nós do tercer mundo), do culto globalizado das celebridades. Mas aquela bobagem toda era novidade para os tupiniquins. O casamento do príncipe William com Lady Kate quase trinta anos depois parece mais um arremedo, um remake de antigo sucesso de qualidade duvidosa, não obstante os esforços de toda a mídia em transformá-lo na grande notícia de semanas atrás com direito a transmissão direta desde a madrugada, comentaristas e uma pinta de ufanismo verde amarelo por saber que um dos vestidos do noivado da nova princesa foi confeccionado por um estilista do Brasil-sil-sil.
Um conto de fadas dirão muitos que se dispuseram a assistir toda essa papagaiada. De fato, parece que nessa nova fase da Idade Mídia todos temos direito a nossa dose diária de “disneyficação” da realidade (para usar uma expressão do cineasta alemão Werner Herzog na entrevista concedida à revista CULT, número 156). Estamos no limiar da terceira infância. Gostamos de ser tratados como crianças e todos temos direito a sonhar com um casamento de princesa, sapatinhos de cristal e a ouvir observações inteligentes como a “indignação” de certa comentarista com o fato de a família real brasileira (?) não ter sido convidada...  No conto inicial a princesa pop star morreu e o príncipe se casou com a bruxa. Resta-nos esperar pelo que vai acontecer com o atual. Pelo menos sabemos que eles agora finalmente saíram em lua de mel e essa notícia mudou totalmente a minha vida.
Compreensível que tal efeméride tenha importância no seu país de origem, a Inglaterra. País que, apesar de ainda se tratar de uma potência respeitável, não tem mais um décimo da importância que possuía em seus momentos de glória e tenha se transformado na província mais rica dos EUA. Incompreensível é a mídia nativa ecoar tal importância a ponto do diário belorizontino HOJE EM DIA tê-lo eleito como matéria de capa de seu caderno de cultura... É a imbecilidade ao alcance de todos.
Segunda parada: Praça São Pedro em Roma. De pop star para pop star aportamos na beatificação relâmpago de João Paulo II, um dos papas mais populares e mais marqueteiros da história. Lembro também que, no começo dos anos 80, ainda embriagados pelos rasgos de liberdade proporcionados pela revogação do AI-5 e pelo fim da Era Geisel, de sua primeira visita ao lado de baixo do equador. João Paulo II tinha um carisma inacreditável e sabia tirar proveito disso. Ele também foi um dos ícones de uma era (os anos 80 e 90) e viajou pelo mundo todo com sua mensagem de fé, para usar uma expressão tão cara aos católicos. Mas carisma à parte é inegável o ranço conservador de seu pontificado, o que ele representou de retrocesso para uma Igreja que se pretendia outra após o Concílio Vaticano II. Uma Igreja que se esforçava em fazer uma virada em favor dos menos favorecidos e que, com a eleição do papa polonês, voltou-se novamente para a direita e sob o argumento de combate ao comunismo se aliou ao que existia de pior no mundo daquele tempo: Reagan e Thatcher, numa verdadeira Internacional Conservadora que engendrou o neoliberalismo de tão triste lembrança.
Não vou me estender em João Paulo II. A propósito o jornalista Antônio Luiz M.C. Costa assina uma brilhante matéria sobre o assunto na edição 644 de Carta Capital, onde ilustra várias mazelas políticas que marcaram o pontificado do quase novo santo. Teologia do espetáculo. Um ótimo conceito para uma Igreja conspurcada por tantos crimes que ela insiste em não admitir, pois errados são sempre os outros. Se os evangélicos tem seus exorcismos e uma crença inabalável de que sua fé no sucesso remove montanhas, os católicos tem seus santos canonizados no varejo. Ambos, no entanto atendem às demandas de um mercado da fé onde o deus é outro e o que importa ao final das contas é sempre o marketing.
Terceira parada: Yes, we can. O slogan ecoou pelo mundo todo como uma brisa de esperança. Deu alento para a grande potência mergulhada numa crise econômica e moral sem precedentes. Elegeu seu primeiro presidente negro e de sobra, antes mesmo que ele mostrasse a que veio, lhe valeu o Prêmio Nobel da Paz (!). Com a popularidade em baixa, não conseguindo se contrapor a uma direita barulhenta e há pouco mais de um ano das eleições eis que o peacemaker bom moço caiu nos braços de seus mais ferrenhos adversários ao encontrar e matar o maior terrorista de todos os tempos fazendo justiça pela morte das quase três mil pessoas nos atentados de 11 de setembro de 2001. Bush Júnior não poderia ter feito melhor. O inimigo número 1 da América foi finalmente justiçado...
Ora o inimigo número 1 da América é sua própria política externa. Bin Laden foi um terrorista forjado nos porões da CIA para combater o inimigo soviético no Afeganistão, assim como Saddam Hussein havia sido mantido pelos EUA durante toda a década de 80 para combater o Irã. A mesma política externa que sempre sustentou a maior parte dos ditadores de direita no terceiro mundo.
A morte de Bin Laden veio acompanhada de todos os ingredientes que sempre nortearam a política externa do Tio Sam: tortura, desrespeito pela soberania de outro país, intransparência e mentiras. Muitos americanos comemoram, mas não perceberam o tiro no pé que lhes deu seu presidente. A vitória dos piores instintos. Ésquilo já havia nos mostrado na Oréstia a transformação da noção de vingança contida no antigo direito tribal no conceito de Justiça que é próprio da pólis. E isso em uma trilogia que tem mais de 2500 de idade. Obama nos fez regressar à idade do bronze, mas os falcões adoraram, a mídia babaca adorou, Hollywood adorou. Espere a versão cinematográfica estrelada por Bruce Willis. A disneyficação está completa. Uma monarquia decadente precisa do casamento de um príncipe, a uma igreja em descrédito convém um novo santo popular e um presidente em declínio precisa assumir as feições de seus adversários para salvar sua administração.
É isso aí.
Sempre há uma luz
Não sou fã do STF. Reconheço que admiro alguns de seus próceres como o ministro Joaquim Barbosa. Fiquei indignado com a votação da ficha limpa. Mas o reconhecimento legal da união estável entre pessoas do mesmo sexo foi show de bola. Um placar elástico: 10x0 me fez acreditar que nem tudo anda perdido. O Judiciário fez o que o Legislativo deveria ter feito, mas que por idiossincrasias de nossa terra natal se obstina em não fazer. Ganharam os homoafetivos que podem esperar a partir de agora ter uma vida mais normal dentro dos parâmetros de normalidade de nossa sociedade. Mas quem mais ganhou com isso foi a sociedade brasileira que afirma assim seu estatuto de estado laico não cedendo às pressões do lobby de certos grupos religiosos. Como muitos devem saber, o “fundamentalismo” sempre precisa de um demônio para chamar de seu e fiéis a esse preceito, muitos “religiosos” tem nos homossexuais seus adversários, a Geni que é boa de xingar e de cuspir. Como se a maneira de amar de alguns pudesse abalar os alicerces de uma crença que, pelo menos em princípio e para ser fiel às suas origens, deveria pregar como fundamental o amor ao próximo.
Como diz o poeta Beto Guedes no clássico “Amor de Índio”: Sim, todo amor é sagrado e remove as montanhas...”
Justiça seja feita há muitos setores da Igreja Progressista que se posicionam ao lado dos homoafetivos e, coisa de dois anos atrás, a Igreja Luterana da Suécia (majoritária no país) aprovou o casamento entre iguais.