Tenho fissura por livros. Gosto de possuí-los, manipulá-los e, sobretudo lê-los. Às vezes leio dois ou três livros de uma vez.
Atualmente estou lendo o ótimo “Filosofia do Tédio”, do norueguês Lars Svendsen.
Mas gostaria de comentar um livro que li há pouco mais de um mês.
Trata-se do GUIA POLITICAMENTE INCORRETO DA HISTÓRIA DO BRASIL. Se não me engano estava até semana passada no primeiro lugar dos mais vendidos (não ficção) da Folha de São Paulo.
Belo título, mas o livro está longe de ser um guia e muito menos politicamente incorreto.
Ele é apenas incorreto.
Não posso dizer se historicamente ele seja incorreto. Não sou historiador.
Mas penso que se queremos fazer história nossas opiniões não deveriam estar presentes de uma forma tão escandalosa quanto nesse guia.
Claro que estou levando em conta que não existe imparcialidade científica.
Não vou fazer uma análise profunda do livro por que isso me obrigaria a lê-lo uma vez mais e eu não pretendo perder tempo com isso.
Vou apenas comentar alguns trechos.
Por exemplo, por mais que Santos Dumont tenha sido um picareta como o autor Leandro Narloch o pinta e não tenha inventado o avião, alguma importância internacional ele tinha ou não teria sido convidado para presidir o banquete que foi oferecido ao aviador americano Charles Lindembergh e nem teria sido condecorado com a Legião de Honra, a mais alta honraria francesa.
Já a obra do Aleijadinho é desprovida de importância artística por que alguns viajantes europeus que passaram pelas Minas no século XIX acharam sua obra feia...
E o que dizer dos comunistas?
Primeiro: João Goulart favorecia as empreiteiras. O próprio Samuel Wainer no livro “Minha Razão de Viver” conta...
Mas a grande pérola é o exercício de futurologia que o jornalista (sim, ele é jornalista) nos brinda na página 278. Um exercício a la Folha de São Paulo.
Ele traça um quadro comparativo entre as execuções que ocorreram em três regimes comunistas e suas respectivas médias populacionais, encontrando um percentual da população executada. Os países são: Cuba, China e Camboja. Se tais percentuais fossem utilizados no caso brasileiro, supondo-se que os comunistas tivessem tomado o poder no país, teríamos na melhor das hipóteses um total de 88.410 mortos e na pior 22 milhões...isso tudo para fechar o livro com uma frase de ouro: viva o Brasil capitalista!
Alguém pode levar isso a sério?
E há dezenas de referências bibliográficas.
No intuito de desmistificar a história brasileira o livro “O Mito do Herói Nacional”, de Paulo Micelli é muito melhor.
O problema é quando as opiniões e a verdade pessoal tentam se impor sobre os fatos.
Mas não é disso que nossa imprensa nacional é feita?