domingo, 5 de agosto de 2018

Estamos de volta.  Estive realmente envolvido na escritura de um roteiro para cinema, trabalho final para uma especialização em roteiro para cinema e TV na PUC Minas. Não tive muito tempo para me debruçar sobre outros textos. Aliás, tempo nenhum. E para tirar o atraso, vou apresentar alguns comentários.


Prêmio Sinparc.


É o único prêmio que existe em Minas para as artes cênicas, nosso Oscar local. O prêmio do Sated desapareceu há já alguns anos por falta de patrocínio desde que o Sesc saiu. Tem a pretensão de premiar os melhores no teatro infantil, adulto e na dança. Toda premiação é sempre cercada de polêmica. Não poderia ser diferente com o prêmio do Sinparc. A premiação se referiu apenas as produções estreadas em 2017. Como a última premiação havia sido para os espetáculos que estrearam em 2015, 2016 ficou na saudade. O Sinparc corrigiu isso dando a cada espetáculo estreante em 2016 uma placa. Claro que foi uma lembrança importante, mas pensar que muitos espetáculos marcantes, como “Nós” do Grupo Galpão ficaram sem uma premiação à altura de seu esforço e de sua audácia. Pena.

O problema das cerimônias de premiação é sempre o mesmo. Pessoas sem um pingo de intimidade com o palco e mesmo com as artes são chamados a discursar. Esse encargo em geral fica nas mãos de representantes dos patrocinadores. Mas o prêmio já não leva o nome do patrocinador? Que homenagem mais poderia existir? Mas esses discursos existem sempre. Tirando isso, a cerimônia teve uma bela abertura. Politizada como há muito não via. Como ando muito influenciado pelas ideias do sociólogo Jesse Souza (li recentemente seu excelente livro A Elite do Atraso que recomendo com certeza) fiquei pensando sobre o tom de indignação da abertura do prêmio. Indignação certamente justa, mas centrada demais no tema corrupção. Não que este tema seja irrelevante, pelo contrário, mas as vezes o tom me parece carregado dessa indignação destilada pela grande mídia, voltada exclusivamente para o corpo político (e em muitos casos a apenas alguns setores desse corpo político), como se não houvesse corrupção em todo esse sistema em que vivemos, como se a própria lógica do capitalismo não engendrasse a corrupção que assistimos. Ainda assim, a abertura da cerimônia foi certamente o seu ponto alto. Conciliou beleza e emoção.

Quanto a premiação em si não posso comentar, pois meu espetáculo foi indicado para seis categorias e saiu sem levar nenhum. Coisas de qualquer premiação. Interessante a ideia do Sinparc em criar duas novas categorias para premiar as comédias, os prêmios de melhor espetáculo de comédia e melhor ator/atriz de comédia. O que não entendo é que determinado espetáculo foi indicado ao prêmio de melhor espetáculo, mas seus atores não foram indicados ao prêmio de melhor ator/atriz de comédia, mas nas categorias de melhor ator e melhor atriz. Sem sentido. Escolhas assim depõe contra a credibilidade do prêmio.


Lei Municipal de Incentivo e afins


O tão esperado resultado da Lei Municipal de Incentivo à Cultura saiu.  Logo depois do anúncio oficial vieram e-mails convidando para palestras e explicando as novas premissas e etc. Confissão de culpa? Por que falo isso? Basta dar uma olhada na lista dos aprovados para artes cênicas. Grande parte do que foi aprovado se refere a eventos que já fazem parte do calendário cultural da cidade. Então sobra pouca coisa para atividades como produção e circulação. E por percorrer as listas de aprovados todos os anos tenho a estranha sensação de que os benefícios da lei ficam concentrados em determinados grupos e associações com as exceções de praxe. É uma discussão antiga e muitos dos defensores do status quo irão me dizer que talvez esses grupos tenham feito projetos mais consistentes dos que eu ou outro artista menos conhecido tenha apresentado. Pode ser, mas não creio. Não creio porque participei na década passada por quatro anos consecutivos da LMIC. 

O primeiro ano como membro do grupo que escolhe os projetos (por isso conheço as limitações orçamentárias) e nos três anos seguintes como parecerista da lei, ou seja, aquele cara que leu praticamente todos os projetos de artes cênicas e emitiu um parecer sobre a sua aprovação ou não. Confesso que os projetos de todos os grandes grupos passaram pelas minhas mãos e sinceramente não vi nada que sobressaísse em nenhum (a não ser o currículo do grupo, claro). As decepções com a relação de aprovados na LMIC me leva a pensar em outras seleções para outros tipos de evento (recentes até) e com a falta de surpresa que tenho ao constatar quem são os aprovados, me parecendo muitas vezes que tais seleções não passam de uma ação entre amigos. Então por que lançar editais?

Voltando a LMIC: Mais que lutar por aperfeiçoar os mecanismos da lei, penso que deveríamos lutar pela existência de uma política cultural de fato, coisa que penso não existir em nenhuma esfera seja municipal, estadual ou federal.

Geraldo Carrato


Foi com muita dor que nos despedimos desse grande ator. Para mim foi uma surpresa muito grande saber que ele estava doente. O havia visto em janeiro ou fevereiro durante a última Campanha de Popularização. Estávamos no Maletta e ele passou, nos deu um abraço, disse estar morando na Itália, etc. Sua saída vai deixar um vazio. Sempre o considerei um dos atores mais talentosos da cidade, dono de uma voz forte e de uma excelente dicção. O vi pela primeira vez em Pasolini, Paixão e Morte quando o espetáculo se apresentou na PUC na década de 80 do século passado. Fiquei muito impressionado com seu trabalho. O último espetáculo que vi com  ele foi Lisbela e o Prisioneiro. Não sei se foi a última coisa que ele fez. Enfim. A vida é feita de chegadas e partidas. É a única certeza que temos.

Grande Sertão: Veredas


Sem dúvida um dos melhores espetáculos que vi nos últimos anos. Senti-me agraciado por ter visto. Só havia visto um espetáculo de Bia Lessa, Orlando. A montagem visitou BH nos anos 90 e quem fez Orlando foi Beth Goffman. Achei de mal gosto. Havia acabado de ler o romance de Virgína Wolf e achei que o espetáculo não tinha conseguido captar a essência do livro. Mas agora grata surpresa. Um espetáculo vigoroso, um desempenho formidável de Caio Blat, uma construção cênica que desenha com os corpos dos atores os climas e cenários que compõe o universo de Guimarães Rosa. A única nota “negativa” é que é visível que o espetáculo foi criado para um espaço menor que o grande teatro do Palácio das Artes. O gigantismo do espaço nos afastou um pouco do clima construído pela bela poesia da encenação. O espetáculo teria sido muito melhor apreciado se tivesse sido apresentado em um espaço como o Galpão Cine Horto, por exemplo. Lógico que em uma temporada bem maior. Também o improvável “carioquês” de alguns atores mais jovens soa bem ruim para ouvidos mineiros habituados a ler o grande Guima. Mas nada que realmente chegasse a  comprometer o espetáculo.


O Sortilégio da Mariposa



Por fim chegamos a mais recente montagem da Trupe Teatro de Pesquisa da qual também faço parte. O Sortilégio da Mariposa foi o primeiro texto dramático escrito por Federico Garcia Lorca e tem muito dessa sua inexperiência juvenil em seu texto. Quando o li pela primeira vez tive dificuldades em visualizar um espetáculo teatral (e olha que, modéstia à parte, tenho alguma facilidade com isso). A teatralidade de sua poesia foi ficando evidente no processo de ensaios e na imaginação visual do diretor Yuri Simon. Uma delícia de fazer. E penso que de assistir também a julgar pelos aplausos e pelas demonstrações de carinho recebidas por nós atores depois das apresentações. Saúdo meus companheiros de cena: Marcus Labatti, Diego Krisp, Alice Correia, Pauline Braga, Pedro Viera, Simone Caldas e Iolene de Stéfano. E aos que entraram no barco, mas que tiveram que sair por questões pessoais: Alex Zannon e Jader Correa. Vida longa ao nosso espetáculo.  

E por fim a pergunta que até agora não me responderam: haverá seleção de espetáculos locais para o FIT 2018?