domingo, 24 de julho de 2011

Deus salve a diferença

No calor da hora escrevo essas linhas ainda abalado pelo que aconteceu sexta-feira na Noruega. 92 pessoas mortas por um neonazista que alegou que seu ato era cruel, mas necessário. Necessário para quê ou para quem meu Deus do céu? Para defender os valores de um suposto fundamentalismo ocidental e cristão. Eu que pensava que se existe algum tipo de fundamentalismo cristão, esse deveria ser o de um amor incondicionado ao próximo. Vai ver entendi errado e que o cristianismo que eu julgava conhecer é outra coisa muito diferente.
O monstro (não há termo que melhor qualifique esse tipo de gente) publicou um longo manifesto na internet condenando os muçulmanos e os marxistas.
Eu que pensava que o velho Marx estava morto e enterrado nos escombros do Muro de Berlim, não imaginava que seu fantasma ainda assustava o pálido ocidente apesar da China, país de partido único e economia capitalista, estar colocando em risco a soberania do mundo racional e cristão.
Eu clamo aos céus: Que medo do diferente é esse meu Deus, que tanto me afeta?
É que a mãe Europa, berço da cultura ocidental, está sendo invadida pelo micróbio árabe, dizem os mais afoitos. A nova invasão dos bárbaros pobres abaixo da linha do equador faz tremer os pilares de uma civilização milenar. E eu que não consigo entender o motivo de todo esse ódio.
A Europa sempre foi a invasora de todo o mundo. Os europeus estão acostumados a invadir e dominar outros povos desde a Guerra de Tróia. Nós das Américas e de boa parte da África e da Ásia somos todos frutos dessas invasões.  A corrente migratória sempre foi de lá para o resto do mundo apenas nos últimos quarenta anos essa tendência se reverteu, mas com a crise cada vez mais constante da zona do euro, o mais provável é que ela retorne ao que sempre foi.
Mas justo na Noruega? Justo na terra de Ibsen? Um dos países que para nós do sul do mundo sempre nos pareceu um berço de tranqüilidade, o local de uma civilização senão superior pelo menos bem mais equilibrada e racional que o resto do mundo.
Talvez resida aí o nosso equívoco. Recentemente, em sua coluna na Folha de São Paulo, o professor Vladimir Safatle comentou as declarações de um ministro dinamarquês que havia dito que eles (os dinamarqueses) eram uma tribo e gostavam de viver assim há pelo menos dois mil anos. Entendemos todos. Os nórdicos nos enganaram durante todo esse tempo. Eles são e querem continuar sendo os mesmos bárbaros de outrora. Tudo o mais é verniz. A civilização européia não passa de uma grande mentira, um escárnio lançado sobre a raça humana. Três mil anos de civilização parecem não ter ensinado nada aos europeus que já passaram pela inquisição, pelas guerras de religião, pela peste negra, por duas grandes guerras e pela infâmia maior que foi o holocausto e, bem mais recente, pela sandice que foram as guerras na ex-Iugoslávia. Parece que sempre que há uma brecha, nós ocidentais e cristãos estamos sempre prontos ao ódio infundado contra nossos vizinhos. Nos incomoda a cor da sua pele, a sua crença diferente, a sua convicção política, seu time de futebol e principalmente sua falta de recursos materiais.
No Brasil temos a registrar dois fatos curiosos que nos aproximam dessa doença européia. O ator mineiro Alexandre Sena foi agredido por policiais na cidade catarinense de Blumenau. Seu depoimento foi amplamente divulgado na internet. Triste para uma cidade turística que promove festivais de teatro de âmbito nacional e que deveria estar acostumada com a diversidade.
 “Vaza negão! Aqui não é seu lugar.” Foram as palavras dos policiais que o abordaram. Aqui não é seu lugar...Certamente o policial da alemã Blumenau considere que sua cidade de fato não faça parte desse Brasil de gente diferenciada que fala português e que votou em Lula muito em função dos programas sociais. Para ele, o policial, sua cidade como todo o sul em si nada mais são que uma extensão da boa e velha Europa preconceituosa e racista. É mesmo Xará, aquele não era o seu lugar, você não é parte desse mundo de civilização ariana. Graças a Deus.  Arianos e superiores todos são até a próxima tragédia da natureza que os irá promover à classe dos brasileiros do terceiro mundo.
Parte II: no interior de São Paulo, pai e filho foram atacados por neonazistas que os mutilaram por que pensaram se tratar de um casal homossexual. Isso me lembrou um crime mais antigo. O da morte do índio Galdino em Brasília. Queimado por animais oriundos da classe dominante da cidade que pensavam se tratar de um mendigo.  Ah sim, aos índios e mendigos é permitido dispensar tal tratamento, afinal não são humanos, como também não o são os homossexuais bem entendido. Para muitos, esses seres que gostam do mesmo sexo nada mais são que aberrações da natureza e por isso é lícito que sejam atacados e mutilados por babacas de sexualidade frustrada. E a esse coro se juntam a bancada evangélica e a frente parlamentar católica no Congresso que bloqueiam a aprovação de uma lei anti-homofobia. Reflexos de uma civilização cristã que mata adolescentes num acampamento na Noruega. Faz sentido. 

domingo, 17 de julho de 2011

E por falar em futebol...

E por falar em futebol, o Brasil deu mais um vexame ao ser eliminado nos pênaltis para o Paraguai depois de um 0x0 no tempo normal e na prorrogação. Uma constante nessa competição: em quatro jogos disputados três empates e uma única vitória. O Paraguai, atrevido na partida válida pela primeira fase da competição mostrou-se bem mais acanhado e menos disposto a acertar a meta brasileira. O Brasil foi o de sempre. Minto, demonstrou mais vontade de chegar ao gol adversário, mas o excesso de estrelas que não são estrelas, o excesso de firulas e a absoluta falta de objetividade aliada a um técnico que depois de um ano no cargo ainda não disse a que veio. A escalação para as cobranças de pênaltis foram a expressão mais viva da absoluta incompetência desse técnico para conduzir a seleção que ele diz treinar e o resultado foi o que se viu: quatro cobranças perdidas sendo que apenas uma defendida pelo arqueiro guarani. Outras três chutadas pelos ares me lembrando uma fatídica decisão de título brasileiro em março/78 no Mineirão.
Como torcedor de futebol penso que nós brasileiros podemos ir nos preparando para futuras decepções. Se continuar como está caminhamos para repetir a África do Sul de 2010 (única seleção anfitriã a ser eliminada logo na primeira fase). Todas as reportagens e denúncias parecem apontar para algo muito sério: A CBF e seus dirigentes parecem pouco interessados no destino do futebol brasileiro em si. O que os move é tão somente a ânsia desenfreada pelo lucro, o que aliás a FIFA parece fazer muito bem.
Como torcedor penso que primeiro deveríamos nos livrar desses técnicos gaúchos que vêm monopolizando o comando da seleção na última década e não vai aqui nenhuma restrição ao povo do sul, longe disso. Mas francamente, à honrosa excessão representada por Felipão que tinha à sua disposição bons jogadores como os dois Ronaldos e Rivaldo dentre outros, não precisamos de técnicos como Dunga ou Mano Menezes. O problema é que não existem muitas boas opções no mercado e, ao gosto dessa turma que dirige o futebol brasileiro, podem retornar figuras como o Parreira...brrr, Deus nos livre.
Em segundo lugar temos que dizer a Neymar, Ganso, Pato e outras aves de vôo curto que eles são craques nos times em que jogam, na seleção brasileira ainda não são bosta nenhuma e correm o risco de não o serem se continuarem jogando o que jogam.
Como cidadão penso que o poder público deveria intervir de alguma forma nos destinos do futebol antes que seja tarde. Principalmente levando-se em conta que é essa turma que está organizando a copa de 2014 com recursos que não são nem da CBF e muito menos da FIFA.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Volta ao lar

Amanhã, se Deus quiser, estarei de volta a BH depois de três semanas em Goiânia. Foram três semanas intensas e nem deu para conhecer a cidade direito, mas dei algumas voltas. Goiânia é uma cidade diferente de todas as outras que conheci, mas apesar disso a sensação de estar em casa é grande. Parece mesmo que Goiás é uma extensão de Minas, não um outro estado. O curso foi bom. Conheci pessoas interessantes, aprendi coisas que não suspeitava (outras nem tanto), acho que deixei coisas positivas nas pessoas que conheci, mas devo confessar que me decepcionei muito no final. Coisas da vida.
Ficar longe de casa, longe da família e dos amigos nos faz valorizar o que temos de bom e amigo junto de nós.
Na próxima segunda-feira, 18 de julho, estarei em Ouro Preto apresenanto o espetáculo Fausto(s)!. É sempre bom voltar em cartaz. Mefistófeles me fez feliz no palco. Me senti grande. É lógico que a personagem ajuda, mas também há o dedo do diretor, meu amigo João Valadares, e a expressiva contribuição dos colegas de cena.
Cuidado:Frágil! fará em breve uma série de apresentações nos centros culturais de Belo Horizonte.
E Sérgio Abritta está escrevendo um texto para ser montado por da Cia da Farsa. A pretensão é estrear ainda esse ano. Tamo que tamo.

domingo, 3 de julho de 2011

Notícias

Estou em Goiânia fazendo um curso pela Caixa. É uma cidade bonita. tem ruas e avenidas largas, muitas praças, muitos prédios e carros. Como é julho não está fazendo tanto calor. Um clima ameno. É uma cidade limpa, vi poucos pedintes. Não conheço o transporte coletivo, pois só andei de táxi ou a pé. O Parque Buritis é muito agradável. Parece que corre muito dinheiro na cidade. É como diz o poeta: O Brasil não é só litoral, é muito mais que qualquer zona sul. É muito bom olharmos para o interior do país e descobri-lo, por mais que, pecado desse mundo globalizado, muitas coisas (senão a maioria) sejam muito parecidas com o que vemos em outros lugares.
Ontem teve teatro. A Cia de Comédia "Os Melhores do Mundo" se apresentou no Centro de Convenções que fica em frente ao hotel onde estou hospedado. Todo mundo gosta, eu sou um pouco reticente. Vi um grande sucesso do grupo em BH, "Hermanoteu na terra de Godah". Não sei se por ter visto muitas coisas deles no Youtube, achei muito fraco. Já o que vi ontem, "Tira: Codinome Perigo", achei bem mais engraçado. Eles usam o esquema de sempre fazendo piadinhas com os times locais e com figuras políticas da região. Mas o espetáculo tem um grande achado ao fazer piada com o juiz goiano que, desrespeitando a decisaão do STF, proibiu um casamento homoafetivo. Um caco bem achado e bem encaixado numa cena de julgamento. A platéia vem abaixo. O espetáculo é uma sátira aos filmes policiais americanos. Tem momentos impagáveis, outros muito próximos do "Zorra Total", sem falar que eles jogam o tempo todo para a platéia o que teatralmente falando considero um pouco pobre. Mas é uma boa diversão. Falta ver alguma coisa do local. Vou procurar, afinal vou ficar por aqui até o dia 16. No dia 18 estaremos em Ouro Preto apresentando "Fausto(s)!" no festival de inverno e a Cia da Farsa ( a que pertenço) está se preparando para o novo espetáculo com texto que está sendo escrito por Sérgio Abritta. Estamos todos na espectativa.
Itamar Franco morreu. Apesar de não ser seu eleitor (minto: votei nele no segundo turno da eleição para governador de 1998) reconheço sua importância. Assumiu o lugar do Collor depois do impeachment e segurou o país num momento de grave crise institucional. Também foi o presidente que assinou o Plano Real. Na época, como bom militante petista, critiquei o plano a torto e direito. Depois de tanto tempo é impossível negar seu valor. Afinal, a hiper-inflação não voltou desde então. Mudamos todos.
Agora é aguentar o presidente do Cruzeiro como novo senador por Minas. Paciência.
E por falar em política penso que deveríamos começar a construir uma alternativa viável para disputar a prefeitura de Belo Horizonte ano que vem. Não sei o que pensam, mas eu não estou disposto a votar nas opções que estão por aí. PT inclusive.