Falar de política para mim é sempre uma necessidade.
Assim como no dia da independência, ontem, dia da padroeira do Brasil, também foi dia de marcha contra a corrupção, especialmente em Brasília onde, estima-se, compareceram cerca de 20 mil pessoas. No Bom Dia Brasil de hoje, comentando sobre a importância da marcha, Alexandre Garcia disse que foram os cara-pintadas que colocaram Collor para fora. Em 1992 eu também estava lá. Eu também saí às ruas para gritar “Fora Collor”, mas não creio que tenha sido apenas a agitação das ruas que tenha colocado o caçador de marajás para correr. As elites desse país têm um senso de sobrevivência inigualável e, como bons ratos, abandonaram o barco antes que ele afundasse. Se não me falha a memória, na votação do impeachment o presidente contou com menos de 20 votos a seu favor e olha que a esquerda não tinha maioria nenhuma naquela época.
A marcha contra a corrupção traz duas marcas básicas: dizem ter sido convocada somente pelas redes sociais, Facebook em especial, o que a colocaria em sintonia com a “primavera árabe” e com os movimentos de insatisfação na Europa e EUA, ou seja, estamos todos antenados. Outra característica é que se denomina como apartidária. Não foram vistas bandeiras nem de partidos políticos, nem de sindicatos ou da UNE. Os poucos participantes que se aventuraram a desfraldar alguma flâmula partidária foram vaiados. Até o impoluto senador Eduardo Suplicy foi barrado ao tentar fazer um discurso na marcha de São Paulo.
O apartidarismo da marcha é sintomático e, em minha avaliação, tem relação com o que escrevi anteriormente sobre a falência do modelo partidário/sindical atual e a UNE, um dos baluartes da oposição à ditadura mais respeitados nos anos 60, sinto informar, está no mesmo barco. A busca e a manutenção do poder são, conforme demonstrou Maquiavel, os objetivos fundamentais do príncipe, algo intrínseco a atividade política. Só que pelo visto, o poder pelo poder anda enojando muito gente.
Não participei da marcha. Sinceramente não tenho muita simpatia por esse tipo de manifestação. Me cheira a moralismo e me remete a outras marchas do passado de tão triste memória para a democracia (falo evidentemente das marchas da família, com Deus pela liberdade e ao golpe militar que se seguiu a elas). Mas reconheço que ela tem sua importância. Temos mesmo que nos indignar com esse estado de coisas e é nosso dever nos movermos para modificar tal estado. Só lamento o fato de que ela mire apenas a classe política, como se tal classe não espelhasse a própria sociedade. A mesma sociedade que elegeu a lei de Gérson como um de seus pilares e cuja MPB, pelo menos em sua versão carioca, sempre foi bastante simpática com a malandragem. Digno de nota é o símbolo utilizado por muitos participantes para expressar sua justa indignação: a vassoura que num passado nem tão distante serviu de mote para a campanha de um certo presidente de triste memória.
Vendo de fora tem-se a impressão de que existe um clima de aversão aos políticos e aos partidos, uma sensação geral de que todos se equivalem, não importa a sigla ou a cor da bandeira. É que o PT e boa parte da esquerda durante muito tempo se apropriaram de um discurso moralista onde sempre se colocavam como os portadores de uma verdade ética incontestável. A CUT e seus sindicatos, como extensão do PT sempre foram pelo mesmo caminho. Figueiredos e Sarneys, Malufs, Collors e FHCs sempre eram os ladrões vendidos a serviço do FMI, como pelegos eram sempre os outros sindicalistas que não rezavam pela nossa cartilha. A esquerda chegou ao poder – nosso sonho, pelo menos o meu – e aí veio o mensalão. Nosso castelo caiu.
Tudo bem, o mensalão não foi provado e o Zé Dirceu foi cassado. Ficou de pé até o fim ao contrário de figuras como o ACM, Jader Barbalho e tantos outros que renunciaram para não ser cassados. Mensalão provado ou não a corrupção continuou e continua, em todos os níveis: federal, estadual, municipal, policial ou judicial, sob qualquer partido. Antigos babacas de ontem são nossos aliados de hoje e a oposição... Bem, melhor nem falar.
Mas também não foram vistas bandeiras de partidos de esquerda que não estão no poder como o PSOL e o PSTU, por que será? Volto a minha tese, os partidos políticos, pelo menos da forma como estão configurados, não despertam mais o interesse de ninguém. Discursos bonitos todos podem fazer, mas a prática é outra coisa.
Na contramão do que eu chamo de decadência da forma partidário (ou até para confirmá-la) surge o PSD do Kassab. O que esse partido representa? Alguma ideologia? Alguma novidade em termos de se fazer política? Para mim não. No meu entedimenteo esse partido surgiu da necessidade de alguns políticos que estavam na oposição ao governo Dilma migrarem para sua base de aliados onde vicejam os cargos e as verbas. Novidade nenhuma. E prova disso é que sem ainda ter disputado uma única eleição, já tem em suas hostes dois governadores, alguns senadores, vários deputados federais e estaduais e o prefeito da maior cidade da América do Sul. Qual sua ideologia? Ideologia? Que bobagem é essa? E então veio a notícia da entrada do ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, para a sigla, não sem antes consultar Lula. Minha tese sobre o PSD está uma vez mais comprovada.
Voltando à oposição. Lendo a Folha de hoje deparo com a desilusão de um colunista frente a uma entrevista que o senador Aécio Neves teria dado ao Estadão. O colunista se decepciona com a falta de conteúdo de um político que se postula candidato à presidência da República. Para mim não há surpresa. Estou bastante acostumado com o jeito tucano de governar. Não me assusto com sua falta de idéias. Que idéias mudaram o estado durante o seu governo? Sabemos que tal governo foi marcado por uma oposição anêmica e pelo apoio incondicional de uma imprensa chapa branca. Seu sucessor, ao que parece,segue-lhe os passos que o digam os professores da rede estadual. Nesse contexto ter idéias pra quê? Mesmo porque as idéias que o PSDB tem para o país já foram colocadas em prática nos oito anos da gestão de Fernando Henrique e elas foram derrotadas nas urnas em 2002. Não há novidade.