quinta-feira, 23 de junho de 2011

Ítalo Mudado

A classe artística de Belo Horizonte perdeu um de seus maiores expoentes. Nada mais contraditório para apresentar o grande mestre de muitas gerações de atores e diretores que foi Ítalo Mudado. Um expoente? Logo ele que era avesso à fama? Professor aposentado do Teatro Universitário da UFMG, professor de língua portuguesa e literatura no antigo Colégio de Aplicação, professor do antigo TESC, da escola Skéne/Sesc, mentor do Grupo Intervalo, enfim. Ítalo formou ao longo dos últimos 50 anos centenas de atores que passaram pelos palcos de Minas Gerais e de lá para o mundo. Sempre apegado aos clássicos, eterno amador, seu último suspiro foi dado na quarta-feira 22 de junho véspera de feriado. Não tive a honra de ser seu aluno. Segue um caminho bem diferente de muitos de meus companheiros de palco da cidade, mas desde que fiz amizade com vários integrantes de seu Grupo Intervalo acompanhei alguns de seus trabalhos. Fomos colegas na escola de teatro Skéne/Sesc por cinco anos, ele dando aula de história do teatro e eu de literatura dramática. Quando assumi as aulas ele me recebeu gentilmente em sua casa e traçou comigo as coordenadas da disciplina que eu estava prestes a encarar. E a generosidade? Lembro com carinho do dia em que ele foi assistir ao espetáculo de minha companhia "Auto da Compadecida" e depois fez questão de ir aos camarins para nos felicitar.Ele havia adorado o espetáculo.
Ítalo vai fazer falta. Muita. Quem além dele seria capaz de montar textos de Sófocles, Machado de Assis, Joaquim Manuel de Macedo, Maquiavel e tantos outros monstros sagrados do passado?
Penso que o Grupo Intervalo não deveria desaparecer.  Ele deve continuar a ser animado por todos aqueles que passaram pelas habéis mãos do mestre com os mesmos propósitos cultivados pelo grande professor.
Com tantas salas de espetáculo por inaugurar na cidade, penso que também deveríamos fazer uma campanha para dar a uma delas o nome do grande mestre: Sala Ítalo Mudado. Quem se anima?
BH perdeu mais um grande nome do teatro em 2011 e o céu ganhou mais uma estrela brilhante.
Salve Ítalo, grande mestre.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Prêmios

No texto postado anteriormente eu havia dito que iria falar do Prêmio Usiminas/Sinparc que chegou a sua 8ª edição (o prêmio mesmo começou em 1996, mas com outro nome). Meio estranho falar do prêmio em função mesmo de fazer parte dele como membro da comissão de teatro infantil, mas é inevitável comentar.
Os prêmios são sempre os mesmos. Uns lhe dão confiança, outros não. É uma pena. Penso que um evento como a premiação para os destaques do ano deveria ser um momento de união da classe artística. Claro que é difícil. Nosso espírito competitivo nos faz muitas vezes olhar com desdém e certa inveja para os colegas que foram indicados e/ou premiados. Mas não deveria ser assim. O barco do teatro é o mesmo e estamos todos nele. Deveria ser uma alegria vermos um colega de trabalho de quem gostamos estar indicado para um prêmio qualquer. Devia.
Senti a falta de muitos artistas importantes na platéia.  Parece que muitos colegas só dão as caras quando estão concorrendo. É uma pena.
O prêmio voltou para o Teatro Oi Futuro local onde começou. Tenho boas recordações. A primeira vez que fui indicado, em 1997, a cerimôni foi nesse teatro. Em 2003 estreamos A Farsa da Boa Preguiça no mesmo espaço. Agora, quase vinte anos depois, não sei se foi um bom retorno. Sei que faltaram alternativas para o Sinparc já que, ao que parece, o Grande Teatro estava sem pauta, o Sesiminas em reforma e o Sesc – Palladium...bem, esse só Deus sabe quando.
Em função do espaço pequeno os convites foram limitados e, pecado da organização, muita gente ficou de fora, indicados inclusive. Com quase vinte anos de estrada organizando o prêmio o Sinparc já deveria ter juntado bagagem suficiente para tornar o prêmio impecável, mas não é o que se vê.
Quanto à festa não foi das melhores. Poucas emoções, as surpresas nas premiações (houve surpresas?) não chegaram a empolgar a galera. Estavam presentes as claques de sempre torcendo para os seus respectivos espetáculos, mas não houve empolgação. Emoção mesmo somente na homenagem prestada aos falecidos Leleo Scarpelli e Zeca Santos, lembrados na bela voz de Katia Couto e no som da banda Suvaca de Vó. No mais...
Os discursos de agradecimento não fugiram a regra. Exceções feitas ao depoimento/desabafo do diretor e produtor Kleber Junqueira, premiado pela melhor cenografia do espetáculo Bent  ao relatar que se encontra impossibilitado de voltar a apresentar seu espetáculo em função dos direitos autorais estarem retidos por um grupo carioca e do ator e figurinista Paolo Mandatti, premiado por A Última Canção de Amor Desse Pequeno Universo, suscinto e irônico (e muito divertido), salvou a noite da chatice.
Entre os demais premiados. Vou dizer que acho que a comissão infantil da qual faço parte fez um bom trabalho ao premiar “Homem Voa?” da Catimbrum Teatro de Bonecos. Foi um ano particularmente pobre em produções infantis, apenas 10 concorrentes sendo pelo menos quatro espetáculos de animação. Os bonecos esse ano capricharam na produção e foram reconhecidos com justiça. Fiquei feliz também em premiar o professor, diretor e dramaturgo Fernando Limoeiro pelo texto de “Tropeiros e Cantigas”. Justo.
Minha amiga e companheira de estrada Sidneia Simões não ganhou. Uma pena. Ela tampouco conseguiu entrar na festa, foi uma das barradas no baile apesar do convite com lugar marcado.
Fausto(s!), injustiçado por ter tido apenas 2 indicações levou afinal o prêmio de melhor iluminação.
Meu amigo Leo Fernandes também venceu o troféu de atuação masculina por “Esperando Godot”. Ele poderia ter sido indicado igualmente por “Nossa Cidade” onde também está muito bem. Não vi os demais trabalhos, mas acho que o prêmio ficou em boas mãos.
Por fim, “Nossa Cidade” ganhou os prêmios de espetáculo e direção. Acho um bom espetáculo e confesso que vi pouca coisa em função de estar permanentemente em cartaz ou ensaiando. Acho que Wilson Oliveira é um diretor consistente que escolhe bons textos e sempre nos apresenta espetáculos de qualidade. Sei também do trabalho e das dificuldades que foi para o Grupo Teatral Encena montar um espetáculo de tal envergadura praticamente sem patrocínio, mas penso também que a comissão poderia ter escolhido um espetáculo um pouco mais ousado quanto a sua linguagem.
Enfim.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Amanhã

Amanhã teremos o prêmio Usiminas/Simparc para os melhores do teatro e da dança de 2010. Como todo prêmio, há sempre muitas divergências e as injustiças são inevitáveis. Muita gente boa (ou interessante) fica de fora e outras (para alguns) nem deviam estar lá. Mas essa é a essência dos prêmios. Não há um prêmio para teatro, cinema ou seja lá o que for que não gere polêmicas. Esse ano, um dos mais prestigiados prêmios literários americanos premiou o também prestigiado Philipp Roth e ouve muita chiadeira. Normal. No passado eu também me envolvi numa polêmica desse tipo, mas o tempo passa, a gente amadurece e afinal acho que nem vale tanto a pena se bater por isso.
Prêmios são importantes porque são um reconhecimento de nosso trabalho por, a princípio, gente que conhece e entende do nosso trabalho. É bom ser indicado e ganhar, mas não ser indicado ou não ganhar também não é o fim do mundo e rigorosamente não prova nada. Querem ver?
Em 1999 a atriz Gwyneth Paltrow levou o Oscar de melhor atriz derrotando feras como Meryl Streep, Cate Blanchet e a nossa Fernanda Montenegro. Shakespeare Apaixonado (que é um filme bonzinho) derrotou filmes como Além da Linha Vermelha e O Resgate do Soldado Ryan. Isso para não falarmos de Cidadão Kane, talvez o maior injustiçado da história dos prêmios artísticos. Quem conhece e/ou curte cinema sabe o que estou dizendo.Mas é isso aí.
Parece que o prêmio Usiminas/Sinparc será o único prêmio teatral desse ano já que até agora (e já estamos no meio de junho) nada se disse sobre o prêmio Sesc/Sated. Ouvi boatos de que o patrocínio para o prêmio do Sated acabaou. Semana passada enviei um e-mail para a presidente do Sindicato que não me respondeu.
Enfim.
Estou na comissão do prêmio infantil e espero que façamos um bom trabalho amanhã. De dentro da comissão acho que as indicações foram bastante coerentes e, na medida do possível, ninguém ficou prejudicado. (É o que eu penso).
Como artista estarei na torcida pela atriz Sidneia Simões que concorre como coadjuvante por Cuidado:Frágil, produção da nossa companhia. Apesar de todos os obstáculos considero uma vitória a indicação da Sid. Desde que começamos a fazer teatro profissional em 1996 sempre emplacamos indicação para algum prêmio. O único espetáculo nosso que não foi indicado para nada foi Retrato Falado. E nesses 15 anos já emplacamos 5 indicações para melhor espetáculo com uma vitória. Nada mal, não acham?
Também estou na torcida pelo espetáculo Fausto(s)! que concorre nas categorias de direção para o João Valadares e iluminação.
Dentre os atores minha torcida vai para meu amigo Leo Fernandes que além de amigo é um grande ator, mas se o Camilo Lélis vencer eu não ficarei triste. Camilo é também um grande ator e um ótimo companheiro de cena. Vamos lá.
Na quinta volto a escrever sobre o prêmio.

domingo, 12 de junho de 2011

Estou tendo problemas para postar minhas mensagens no blog. Espero regularizar logo. Por isso o texto abaixo só foi postado agora, mas ainda acho que vale a pena. É um pequeno tributo a um ícone da música. Posso dizer sem sombra de dúvida que Fui ao show da minha vida...

Sim. Palavra de fã. Dia 23 de maio, uma segunda-feira com cara de feriado (feriado para mim), no estádio do Engenhão que eu nunca havia ido para ver futebol, mas para ver e me emocionar com um dos meus ídolos da música, talvez o maior deles: Paul McCartney: Up and Coming Tour.
Um show para não esquecer. Como esquecer?
Foram duas horas e quarenta minutos de show e mais de 30 músicas.
Foram quase três horas ouvindo pérolas do imortal quarteto de Liverpool como “Let it be”, “Eleanor Rigby”, “Day Triper” e “Get Back” mesclados com rits de sua carreira solo como “Jets”, “Band on the run”, sem falar no show de fogos que acompanhou “Live and let die”.
Uma bela e delicada homenagem a George Harrison ao som de “Something”.
O que dizer quando se assiste a uma das lendas vivas da música? Quando ouvimos sua voz, seu português carregado de sotaque, sua simpatia e, mais importante, sua majestosa arte?
Que noite!
Um colunista (ou crítico sei lá) da Folha disse que o final do show é uma festa, quase uma missa (no que acertou no ponto porque uma experiência dessas é quase mística) e ouvir numa mesma noite “Let it Be”, “Yesterday”, “Hei Jude” e “Get Back” beira a overdose. Sim, uma overdose de boa música(como Roma e Florença são overdoses de beleza plástica)
Somos todos filhos do rock, dos anos 60. Não temos idade. A arte nos une, desde adolescentes de 13, 14 anos a representantes da melhor idade. O som da maior banda de todos os tempos toca todos.
Bonito também foi ver a massa descer as rampas do Engenhão ao final do show, já avançando pela madrugada, cantarolando como um hino o refrão de “Hei Jude”. Para não esquecer.
Posso dizer de consciência tranqüila que, apesar de meu apego à MPB, de já ter visto shows memoráveis como o do falecido (e pouco lembrado) Taiguara no dia 7 de setembro de 1985 ou do encontro de Maria Bethânia e Omara Portuondo, que o show de Paul McCartney foi o show de minha vida.
Custei um pouco a descobrir os Beatles. Quando eles se separaram eu tinha apenas 6 anos e o primeiro aparelho de som lá de casa foi adquirido muito mais tarde. Lembro que um dos primeiros discos que comprei foi “Give my regards to Broad Street” em que despontava o sucesso “No More Lonely Nights”, disco que tinha a participação de Ringo Starr. Mas depois que descobri a paixão foi inevitável.
Grande Paul. Que a vida ainda lhe reserve muitos anos e muita saúde e disposição para novos shows. E que os novos shows tragam sempre as velhas e boas músicas imortais.
P.S: Gostei do Engenhão. É um estádio bonito, moderno, parece uma nave espacial. Mas fica um pouco mal localizado. É verdade que tem a conveniência de estar situado defronte a uma estação de trem, mas ele não fica bem no meio de um bairro populoso, com ruas estreitas que dificultam o trânsito de pessoas e carros.
Também o achei visualmente poluído: propagandas de patrocinadores em demasia.
Mas se mostrou um bom templo para boa música. Quanto ao futebol...