domingo, 29 de abril de 2018

A safra teatral está realmente muito boa


Preto, que encerra temporada em BH nesta segunda-feira, 30 de abril, é um dos grandes espetáculos da temporada. Produção da Cia Brasileira de Teatro, grupo que tem sua sede em Curitiba,é comandada pelo diretor Márcio Abreu e que agregou nos últimos anos a luminosa cumplicidade artística de Renata Sorrah. 

A Cia Brasileira de Teatro já esteve em BH em outras oportunidades com espetáculos como “Vida”, “Oxigênio”, “Projeto Brasil”, “Esta Criança”, “Krum” e a agora “Preto”. (Será que me esqueci de algum?) Márcio Abreu é um dos curadores do Festival de Teatro de Curitiba e em BH dirigiu “Nós”, último espetáculo do Grupo Galpão. “Preto” assim como “Nós” é daqueles espetáculos para os quais é preciso estar preparado para assisti-lo. Da mesma forma que é necessária coragem dos atores e outros criadores envolvidos para embarcar numa empreitada que simplesmente tira o chão dos atores quebrando completamente as noções de drama, dramaturgia e personagem. Primeiro porque não há personagem ou se o personagem existe (é claro que existe) está imbricado de forma tão sutil no pessoal do ator que nos deixa em dúvida. Não aquele pessoal que se tornou moda no teatro contemporâneo (pelo menos no teatro feito em BH), aquele pessoal do ator quebrar a quarta parede e contar coisas de sua vida privada para plateia. A imbricação do personagem e do pessoal do ator em “Preto” e em “Nós” é separado por uma linha tênue que exige dos atores um domínio do ofício que os permita navegar pela fábula proposta sem que a plateia não se dê conta da diferença. 

É um universo de sutilezas e de detalhes que nos faz acreditar que estamos no sofá conversando com a atriz Renata Sorrah, mas que ao mesmo tempo nos leva a desconfiar daquela atriz que na verdade é personagem, mas que não deixa de ser a própria atriz. Para navegar em águas desse tipo é necessária não só coragem, mas adesão. Adesão ao que está sendo dito. E o que está sendo dito ou mostrado? O título nos remete a um espetáculo político, de protesto, que coloca a questão do negro na ordem do dia. Um espetáculo panfletário como ouvi de alguns ou esquemático em sua proposta dramatúrgica como ouvi de outros. Sinto discordar.

“Preto” é panfletário na medida em que a poesia possa ser panfletária, radical em sua proposta de linguagem. E a proposta dramatúrgica de “Preto” é deveras radical. E esquemático é algo que o espetáculo definitivamente não é. Não se está discutindo uma questão racial ou a “vitimização” da qual boa parcela da sociedade brasileira é submetida (54% da população brasileira segundo dados do IBGE). “Preto” põe em discussão a questão da diferença, da diversidade. Outros espetáculos o fazem, é verdade. Mas Márcio Abreu e sua trupe envolvem a plateia na discussão tocando-nos por outras bordas. Pela forma sutil que a problemática vai sendo aos poucos inserida ao longo da narrativa, pela troca de papéis, pelo cotidiano que não é naturalizado, mas dissecado no seu absurdo, pelo personagem/não personagem que vaga pelo poético da situação, pela memória como na cena em que Renata Sorrah, Grace Passô e Nadja Naira “revivem” uma cena de “As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant”, um dos sucessos teatrais da carreira de Sorrah. As situações e frases de um texto que parece estar sendo construído a cada espetáculo nos envolvem num caleidoscópio que nos lembra uma das primeiras cenas de “Nós”, aquela em que os atores estão preparando uma sopa e Teuda continuamente derruba um copo com água. Em “Preto” não há sopa, nem copo d’água, mas um contínuo construir e reconstruir o que está sendo dito, fazendo em cena exatamente o que Grace Passô diz em um dos momentos da peça “...e aí você vai buscar o fogo. Obstinadamente você vai buscar o fogo, e essa obstinação que surge, de repente, é também uma espécie de fogo interno, que arde, aqui dentro e te faz agir, saber, correr, erguer, sustentar, lutar, suar...”. É um texto que pode bem resumir o que é o espetáculo.

Destaque para as atuações. A vibrante atuação de Grace Passô que preenche todo o espetáculo. Grace ocupa todos os espaços do palco com seu corpo, com sua presença, com sua voz. Sua potente e bela voz. Há um momento na peça em que ela canta que parece estarmos vendo uma entidade do samba ou do jazz. Uma atuação impressionante. Renata Sorrah e Cássia Damasceno também se destacam. Muito legal ver uma atriz como Renata Sorrah, com sua impressionante trajetória na televisão, no cinema e no teatro, que poderia repousar sobre os muitos louros já conquistados ao longo de sua carreira, não temer o risco. Isso faz um verdadeiro artista. Os outros atores também estão bem. Penso apenas que os atores Felipe Soares e Rafael Bacelar poderiam ter sido mais explorados. Dois bons atores que dão conta do recado, mas que não tiveram espaço para mostrar mais sua potencialidade. O espetáculo é muito centrado nas mulheres, especialmente na dupla Passô/Sorrah.

O único problema do espetáculo na minha opinião é sua duração e talvez isso seja um problema da direção. Já havia sentido isso em outros espetáculos da Cia Brasileira de Teatro, especialmente em “Vida” que vi duas vezes. O espetáculo diz coisas muito fortes e importantes de uma maneira absolutamente singular, porém há, parece, um desejo de reiteração que faz com que o espetáculo tenha mais de um clímax e quando parece que vai acabar recomeça sem muita coisa nova acrescentar. Para mim poderia ter acabado na cena em que Grace faz um poema em que conta todos os dias que se passaram desde o assassinato da vereadora Marielle. Um momento sublime. Outras propostas da direção como as cabeças gigantes também não chegam a mim. No mais é um espetáculo que não só merece ser visto, mas que precisa ser visto. 

domingo, 22 de abril de 2018

Vamos falar de teatro?


Já disse tempos atrás que não sou crítico de teatro. Acho mesmo um pouco incompatível a profissão de ator atuante com a de crítico. Mesmo assim vou inaugurar agora uma sessão em que vou me permitir falar do que vejo nos palcos. Do que vejo e principalmente do que gosto.

Curitiba


Em 2018 foi a quinta vez que fui a Curitiba por causa do festival, um dos mais importantes do país. Desta vez estive na equipe do espetáculo "Esquecidos e Recordados", dirigido por Igor Ayres, o mesmo diretor de meus dois últimos trabalhos "Boca de Ouro" e "Dois na Pista"". Somos uma equipe. A dramaturgia do espetáculo é de Luiz Drumond que faz sua estréia na escrita cênica. O trabalho que envolveu pesquisa sobre a situação dos moradores de rua, fala exatamente sobre essa parte da sociedade que pagamos para esquecer. "Esse grande zoológico humano para o qual compramos ingressos para não ver", conforme diz uma das personagens, exatamente a vivida por Luiz Drumond que também é ator no espetáculo. Ele divide a cena com Horácio Martins e Ana Justino. O trio tem uma química interessante o que rende cenas muito boas e uma cumplicidade cênica bem saudável. Ana Justino, uma linda atriz negra, se destaca com sua moradora de rua, a que sofre os piores maus tratos desse arremedo de sociedade em que vivemos. Imagine ser mulher, negra e moradora de rua? O texto tem força (e como poderia não ter falando do que fala?), mas talvez se ressinta um pouco de querer falar muitas coisas num tempo reduzido. 

O que é aliás, compreensível em quem começa a escrever para teatro especialmente se pretende fazer um teatro mais político, mais engajado em questões sociais. Também há soluções da montagem que não chegam muito em mim, como o uso de máscaras em determinadas cenas, por exemplo. Destaque porém, para a cena em que os três atores manipulam marionetes simulando um estupro. Uma cena perturbadora. O espetáculo se apresentou no Mini-Guaíra, dentro do complexo cultural do Teatro Guaíra que tem outros dois espaços. Uma espécie de Palácio das Artes de Curitiba, dentro do Fringe que é a mostra paralela do festival. O público não foi lá essas coisas, aliás tenho várias ressalvas a participação no Fringe. O Festival de Curitiba acontece durante treze dias, mas são apresentados mais de duzentos espetáculos vindos de todos os lugares do país. A capital paranaense deve ter metade da população de BH, mesmo com os turistas que chegam é difícil encontrar um público satisfatório para tantos espetáculos. O que lota e esgota são os grandes espetáculos da mostra oficial, especialmente os do eixo Rio-São Paulo. Alguns espetáculos do Fringe conseguem emplacar, mas a maioria fica às moscas. Mesmo assim o festival só aumenta de tamanho. Vá entender.

Tive o privilégio de ver três grandes espetáculos da mostra oficial. O excepcional "Suassuna: O Auto do Reino do Sol",  da Cia Barca dos Corações Partidos e com direção de Luiz Carlos Vasconcelos, seguramente um dos melhores espetáculos que vi nos últimos anos. De uma simplicidade, de um despojamento, mas de uma poesia assustadora. Uma trupe genial de bons atores, bons cantores e bons músicos e uma direção precisa do Luiz. Um texto empolgante de Bráulio Tavares que nos remete de imediato ao universo de Ariano Suassuna e ao mesmo tempo às próprias fontes de sua obra, como as tramas medievais que inspiraram inclusive Shakespeare. Há duas histórias correndo no Auto do Reino do Sol, a primeira é de uma trupe de circo que viaja pelo sertão e almeja chegar a Taperoá e a segunda é a história de amor de dois jovens pertencentes a duas famílias rivais que fogem para se encontrar e acabam fugindo com o circo. As canções são de Chico César,  Beto Lemos e  Alfredo Del Penho. O espetáculo até que começa meio morno, uma canção aqui, outra dois minutos depois e eu pensei "Vou ver um show de música?" Mas não, era só um aquecimento para oque nos seria presenteado. 

Sim, a expressão é essa, presenteado. Um presente que nos foi dado. E assistir a um espetáculo desses num momento tão difícil. Foi exatamente no final de semana da prisão de Lula e de sua ida para a masmorra de Curitiba. E aí nos vem um espetáculo que fala do sertão-mar desse país mestiço, desse país caboclo que se recusa a se enxergar como tal. Encontrei com o crítico Miguel Anunciação na saída do teatro e fomos tomar uma cerveja e ele comentou como ficou impressionado com a reação da platéia. "Parecia que estávamos num teatro da Paraíba e não do Paraná". É que o nordeste é universal meu caro Miguel. É que mesmo com os tempos toscos que estamos vivendo ainda há espaço para a beleza, para apreciarmos a beleza. Encontrei com os atores e com o diretor no Café do Teatro e lhes disse sem vergonha de parecer piegas: Um espetáculo que não só lavou minh'alma, mas também a exaguou e passou amaciante. E o cavalo? Ou Melhor, e o ator que faz um cavalo? Genial.

A arte nos salva. Quando tudo acabar ainda teremos a arte. A arte e o amor.
Muito confete, né? Eu sou assim com as coisas que gosto.

Tom na Fazenda é outro espetáculo do Rio de Janeiro. (O Auto do Reino do Sol também) E igualmente multipremiado. Vemos também um despojamento, uma simplicidade da encenação (simplicidade é tudo), mas não se engane. Há um jogo perigoso sendo mostrado. Há um delicioso jogo perigoso onde o que conta é o texto, de  Michel Marc Bouchard (mas poderia ser de Sam Shepard de quem ainda vou montar alguma coisa) e o jogo dos atores. Tom é um publicitário e seu namorado morreu. Ele vai para a fazenda da família do namorado para o enterro. A mãe do namorado nunca havia ouvido falar dele e, evidentemente não sabe nada da homossexualidade do filho morto. Mas há outro filho, um jovem truculento com o qual Tom inicia um jogo que...Melhor não falar mais nada, afinal o espetáculo pode vir a BH. Um espetáculo denso, um texto muito instigante e atuações impecáveis, especialmente as de Armando Babaioff que faz Tom e de Gustavo Vaz que encarna o irmão. As outras atrizes do elenco tem menor destaque, afinal a trama principal é o jogo dos dois homens, mas cumprem muito bem o papel. O despojamento dos cenários, apenas uma grande lona que cobre todo o palco, uma lona suja que vira poeira, que vira barro, que vira o lôdo em que estão todos mergulhados naquela fazenda, das relações de amor, ódio e engano que permeiam a trama. Não é preciso mais que uma lona e alguns baldes para construirmos uma fazenda. Essa é a magia do teatro. O que importa é o ator inteiro no palco, com sua voz, com seu corpo, com sua inteligência e sentimento. O resto é fru-fru.

Denise Stoklos em extinção foi o terceiro espetáculo da mostra oficial que vi. Denise Stoklos dispensa comentários. É uma diva. Uma atriz completa. Ela utiliza o texto de Thomas Bernhard para fazer uma reflexão sobre sua vida, sobre sua profissão, sobre sua trajetória. Como já tinha visto outros trabalhos dela confesso que esse não foi o que mais me tocou apesar do tom autobiográfico que o marca, mas é sempre uma alegria ver uma artista do calibre dela em cena. É muito bom ver a arte reagir ao estado de coisas que vivemos nesse país, nesse planeta, no momento presente. "Em Extinção" é um espetáculo político. Ao falarmos de nós, de nosso corpo, de nossos afetos, estamos fazendo política. Ao nos darmos ao luxo de criticarmos nossa própria criação, nossa própria trajetória, colocamos uma espécie de espelho para que a sociedade também se olhe e se critique. Denise de move num cenário em ruínas, restos de um incêndio, a nos lembrar tanto uma carvoaria, como uma cidade em ruínas. É isso. Ela faz um balanço de si como se o próprio mundo ao redor fosse chamado a fazê-lo. As ruínas são o que sobrou do velho mundo e sobre elas temos a oportunidade de edificar um novo mundo. Em Extinção é uma bela metáfora do presente.

Três espetáculos de uma mostra tão grande, mas que me deram uma pílula do que vem sendo pensado e produzido no teatro brasileiro. Um teatro forte, questionador e humano, demasiado humano.

Também tive o privilégio de ver um trabalho bem interessante no Fringe: "Rapsodos", que nada mais é que a dramatização de fragmentos da Íliada e da Odisséia. Três ótimos atores e um trabalho sobre a palavra de dar inveja. Uma aula que deixaria muito satisfeito ao grande mestre Italo Mudado se estivesse vivo.

Na próxima coluna vou falar sobre Preto, espetáculo que também estava em Curitiba, mas que o vi em BH no CCBB.

quarta-feira, 11 de abril de 2018

Estou de volta.


Minha última postagem foi em 2013. 

De lá pra cá me dediquei a outras coisas: escrevi para um jornal de Contagem que não é mais publicado e montei minhas peças. A morte do meu pai em outubro de 2013 me abalou e me fez desistir de algumas coisas, protelar outras. No auge do furacão do golpe eu não cogitava voltar a escrever no blog. O deixei de lado. A vontade de escrever voltou. De falar das coisas que sinto e principalmente de falar de teatro e política.
Faço parte do coletivo de poesia O Grito. Fazemos coisas interessantes lá.
Agora apresento o primeiro texto da nova fase do blog.
É sobre Lula, claro.

Desde que foi julgado pela primeira vez por Sérgio Moro eu sabia que ele seria condenado e preso.

Não sou cientista político e nem Mãe Dinah, mas para mim ficou claro desde o princípio de qual seria o resultado de seu julgamento. Nunca acreditei que o TRF4 mudasse o rumo das coisas e muito menos o STF. Para mim sua prisão seria questão de tempo. Se as pesquisas de opinião pública não o apontassem tão favorito a vencer as eleições de 2018 talvez o resultado fosse outro. E acho que muitos dentro da esquerda pensavam que mesmo com o golpe seria estancado com a eleição de Lula em 2018. Nunca acreditei nesta hipótese.Já haviam rasgado a constituição para afastar Dilma. Por que salvariam Lula?
De qualquer forma aí vai meu texto, o que eu preparei para o retorno deste blog.
É uma livre adaptação do célebre discurso de Marco Antônio nos funerais de Júlio César. É uma pérola da oratória e está em um dos grandes textos de Shakespeare. Nos anos 60 do século passado Millor Fernandes utilizou parte desse discurso no texto teatral "Liberdade, Liberdade". Foi onde o li. Peço licença a Marco Antônio, Shakesperare e Millor. Peço licença também ao eventual leitor. 


Amigos, brasileiros, cidadãos, prestai-me atenção. 

Vim aqui para enterrar Lula, não para elogiá-lo. 

O mal que os homens fazem permanece depois deles. 

O bem quase sempre é enterrado com os nossos ossos, que seja assim também com Lula.
O nobre promotor da República de Curitiba nos disse que Lula é o chefe do bando. E se isso é verdade, é uma falta muito grave, e Lula pagou por ela gravemente, com sua justa condenação, prisão e morte política. Pois o ilustre promotor de Curitiba é um homem honrado, temente a Deus e assim são todos eles, juízes da primeira e da segunda instância, todos homens honrados e conhecedores dos meandros secretos das leis. 
Venho para falar no funeral político de Lula. 

Ele foi um político com um histórico de lutas impecável. 

Mas o Juiz de Curitiba diz que ele era um bandido. E o juiz de Curitiba é um homem honrado.

Lula trouxe para a cena política milhões de esquecidos. Não era nenhum doutor pela Sorbone, nem nunca foi chamado de príncipe dos sociólogos, mas foi o presidente que mais criou universidades e escolas técnicas. Foi ele que criou o Pro - Uni e o Reuni. Com seus programas milhares de filhos de brasileiros pretos e pobres puderam chegar à universidade. 

Isto vos parecia a atitude de um ladrão, de um homem que vendeu seu governo por um triplex no Guarujá ou um sítio em Atibaia? 

Quantos pobres puderam entrar no mercado de consumo graças às políticas de Lula? Quantos puderam passar a comer, a ter alguma assistência médica, a comprar coisas que antes só viam nos anúncios da televisão e até a viajar? 

Ora, a ambição dos ladrões, e há de fato muitos ladrões no Brasil, torna as pessoas duras e sem compaixão. Entretanto, a grande mídia diz que Lula era um bandido. E a grande mídia é dirigida por homens honrados.

Vocês devem se lembrar que no auge de sua popularidade, quando ele foi capaz de eleger “um poste inexpressivo” como a grande mídia dizia, para dar prosseguimento ao seu trabalho, vocês devem se lembrar que se cogitou em um terceiro mandato, em uma alteração na constituição como fizeram em outros países. 

Mas vocês também devem se lembrar que tal artifício foi negado todas as vezes em que foi sugerido. Ao contrário de seu ilustre antecessor, probo possuidor de apartamento em Paris, que mal havia se sentado na cadeira presidencial e já articulava a aprovação de emenda para reelegê-lo. 

Todos sabem disso ou deveriam saber. E nem estamos falando do antecessor, mas de Lula que, como juízes e promotores dizem, é um ladrão. E juízes e promotores são homens honrados.

Eu não falo aqui para discordar do que o honrado juiz de Curitiba falou. Mas eu tenho que falar daquilo que eu sei. 

Nos anos de Lula o Brasil de fato cresceu ou esboçou um crescimento, era um país respeitado pela comunidade internacional.  A rainha da Inglaterra quis se sentar ao lado dele, do analfabeto iletrado e sem um dos dedos da mão. Éramos vistos como um novo eldorado, como um país que enfim havia encontrado o caminho da prosperidade, da estabilidade e da democracia. 

Porque vocês sabem ou deveriam saber que não se faz democracia sem povo e os governos de Lula trouxeram o povo para a ribalta política. 

Vocês todos já o admiraram em algum momento e tinham razões para admirá-lo. 
Qual a razão que os impede agora de estar ao lado dele? De ir para as ruas para defender o seu legado, de resgatar nossa esperança no futuro?

Com esse discurso fúnebre não pretendo transformar Lula em santo. 

santos demais nesta terra e o mundo não precisa de mais um. 

Não quero também encobrir seus erros, os erros de sua administração. Pois é claro que erros foram cometidos como em qualquer outro governo. 

O certo é que quase todos os ditos partidos políticos estavam em seu governo, disputavam ministérios e cargos nas estatais e agora todos estão contra ele. 

Também em seus governos a Polícia Federal teve uma independência para investigar nunca imaginada em governos anteriores. 

Não tivemos nos governos do ex-operário nenhum “engavetador geral da República” como ocorria em governos de outrora. 

Suspendeu impostos para incentivar a indústria, adiou o quanto pode a chegada da grande crise de 2008, promoveu como ninguém as empresas nacionais enquanto diziam que ele era comunista, bolivariano. 

Defender o Brasil virou crime num mundo de interesses globalizados.

Não choro por ele, meus amigos. Um homem é um homem com acertos e erros e no final tudo vira pó. 

Eu choro na verdade é por nós brasileiros, nós que sonhamos com um país melhor, com um futuro melhor. 

Vim para falar da morte de Lula, de sua morte política como apregoam os bem pensantes, mas sinceramente não vejo em nenhum lugar o seu cadáver, pois como ele mesmo disse, não se mata uma ideia.

O único corpo que vejo nesse enterro é o da democracia brasileira, de nossa esperança no futuro.  

A “morte de Lula” é como uma pá de cal em nossos anseios por um país mais justo. Ela só é boa para quem sempre teve de tudo, para quem sempre desfrutou do poder. 

E não se enganem: outros virão para reclamar seu espólio e serão igualmente esmagados por esses homens honrados que não medem esforços para não perder uma migalha de poder que seja, que vêem o homem do povo como eterno escravo a seu serviço. 

A grande lição que devemos tirar disso tudo é que está apenas em nossas mãos mudar esse jogo.