sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Fit


Acompanho o FIT desde a primeira edição. Ainda estava no Cefar, no último ano, quando BH foi premiada com a sua primeira edição. Sempre fui público fiel do festival que sempre defendi com unhas e dentes. Quando o falecido Lacerda quis acabar com ele estive na porta da Fundação Municipal de Cultura com outros artistas para protestar. Não ganhei os louros da briga. Já me disseram que tenho dificuldades com a inteligência emocional. Na verdade, tenho dificuldade com a política, com a politicagem, com o marketing. Enfim.
Como é um blog posso misturar lembranças e sentimentos às tentativas de reflexão que apresento a um possível leitor.

Muito difícil esquecer a abertura do primeiro FIT. Foi o primeiro festival internacional de teatro que vimos na cidade. Era uma tarde de sábado e estávamos na entrada do Parque Municipal, ali na Afonso Pena e de repente artistas com roupas e corpos pintados dependurados nas árvores começaram a vir para o chão e o que se seguiu foi aquela orgia de seguir o grupo francês Generique Vapeur (desculpem a falta dos acentos nas palavras francesas). Foi uma abertura tão marcante que três anos depois ela foi repetida no FIT do centenário da cidade. O impacto de um “espetáculo” tão simples foi a liberdade que nos proporcionou de seguir como loucos aquele grupo (ainda não tínhamos o carnaval de blocos e trios elétricos por aqui) e a felicidade de ver aqueles gringos loucos escalarem prédios e marquises resignificando espaços públicos para os quais dávamos pouca ou nenhuma importância. O Generique Vapeur envolveu a galera e eu nunca havia sentido aquele tipo de emoção em uma manifestação artística. Lembranças.
E evoco essas lembranças para falar do FIT de 2018 cuja abertura, decepcionante, foi feita ontem.

Eu entendo que o momento político nacional exige uma tomada de posição, um engajamento de todos os setores esclarecidos e por esclarecer da sociedade. Sei que os artistas tem um papel fundamental nessa empreitada e que há uma pressão muito forte por uma arte engajada. O problema do engajamento da arte é de o discurso político se sobrepor ao artístico o que no final das contas acaba diluindo um e outro. Ambos acabam perdendo a profundidade que se deseja.  Uma conversa antiga, mas que continua atual, cada vez mais atual. Não vou me estender aqui porque ainda não vi nenhum dos espetáculos programados. Espero voltar mais tarde.

Estava dizendo que entendo que o momento político demande uma tomada de posição. Entendo que há uma curadoria que foi escolhida através de uma seleção pública. Mas isso não me faz desculpá-la pelas escolhas. Estou falando ainda da abertura. Acostumados a ver uma abertura mais monumental, um evento que chamasse a atenção da cidade para o festival, achei meio incompreensível abandonar a icônica Praça da Estação pelo Parque Municipal. A praça, mais que qualquer outro lugar, é o espaço da convivência democrática. Pela Praça da Estação passam milhares de pessoas, carros e ônibus. Tudo bem que o povão (e não estou usando esse termo de forma pejorativa) talvez não se ligue muito no teatro, mas ao passar e ver que está acontecendo algo diferente na Praça ele é tocado. Nem que seja por pouco tempo. Isso para não dizer que a Praça da Estação e seu entorno já estão marcados no imaginário de lutas da cidade.  O deslocamento para o Parque Municipal me deu a impressão de se tratar de um clubinho. Um clubinho frequentado pelos artistas e por consumidores (e outros nem tanto) habituais de cultura.

Os shows de abertura. Não é que foram ruins. Nada disso. Não quero fazer esse tipo de juízo de valor. Mas penso que caberiam mais para eventos do próprio ponto de encontro (quando isso começou chamava-se Bar do FIT) do que propriamente para uma cerimônia de abertura. A batucada inicial com os artistas mascarados começou meio fria, com os artistas tentando provocar algum incômodo na plateia (não causou) e depois foi estabelecido um ritmo interessante e só. E essa não foi apenas a minha impressão. Várias pessoas que estavam presentes sentiram o mesmo. O.K, vão me dizer que a atual curadoria quis uma mudança de paradigmas. Tudo bem, podem me chamar de velho (e nem vi nada tão novo assim no que foi mostrado, a começar pela batucada), mas ainda prefiro o paradigma antigo.

No mais vou tentar ver o maior número possível de espetáculos e irei comentá-los neste blog.










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