Fit
Acompanho o FIT desde a primeira
edição. Ainda estava no Cefar, no último ano, quando BH foi premiada com a sua
primeira edição. Sempre fui público fiel do festival que sempre defendi com
unhas e dentes. Quando o falecido Lacerda quis acabar com ele estive na porta
da Fundação Municipal de Cultura com outros artistas para protestar. Não ganhei
os louros da briga. Já me disseram que tenho dificuldades com a inteligência
emocional. Na verdade, tenho dificuldade com a política, com a politicagem, com
o marketing. Enfim.
Como é um blog posso misturar
lembranças e sentimentos às tentativas de reflexão que apresento a um possível
leitor.
Muito difícil esquecer a abertura
do primeiro FIT. Foi o primeiro festival internacional de teatro que vimos na
cidade. Era uma tarde de sábado e estávamos na entrada do Parque Municipal, ali
na Afonso Pena e de repente artistas com roupas e corpos pintados dependurados
nas árvores começaram a vir para o chão e o que se seguiu foi aquela orgia de seguir
o grupo francês Generique Vapeur (desculpem a falta dos acentos nas palavras
francesas). Foi uma abertura tão marcante que três anos depois ela foi repetida
no FIT do centenário da cidade. O impacto de um “espetáculo” tão simples foi a
liberdade que nos proporcionou de seguir como loucos aquele grupo (ainda não
tínhamos o carnaval de blocos e trios elétricos por aqui) e a felicidade de ver
aqueles gringos loucos escalarem prédios e marquises resignificando espaços
públicos para os quais dávamos pouca ou nenhuma importância. O Generique Vapeur
envolveu a galera e eu nunca havia sentido aquele tipo de emoção em uma
manifestação artística. Lembranças.
E evoco essas lembranças para falar
do FIT de 2018 cuja abertura, decepcionante, foi feita ontem.
Eu entendo que o momento político
nacional exige uma tomada de posição, um engajamento de todos os setores
esclarecidos e por esclarecer da sociedade. Sei que os artistas tem um papel
fundamental nessa empreitada e que há uma pressão muito forte por uma arte engajada. O problema do engajamento da arte é
de o discurso político se sobrepor ao artístico o que no final das contas acaba
diluindo um e outro. Ambos acabam perdendo a profundidade que se deseja. Uma conversa antiga, mas que continua atual,
cada vez mais atual. Não vou me estender aqui porque ainda não vi nenhum dos
espetáculos programados. Espero voltar mais tarde.
Estava dizendo que entendo que o
momento político demande uma tomada de posição. Entendo que há uma curadoria
que foi escolhida através de uma seleção pública. Mas isso não me faz
desculpá-la pelas escolhas. Estou falando ainda da abertura. Acostumados a ver uma abertura mais
monumental, um evento que chamasse a atenção da cidade para o festival, achei
meio incompreensível abandonar a icônica Praça da Estação pelo Parque
Municipal. A praça, mais que qualquer outro lugar, é o espaço da convivência
democrática. Pela Praça da Estação passam milhares de pessoas, carros e ônibus.
Tudo bem que o povão (e não estou usando esse termo de forma pejorativa) talvez
não se ligue muito no teatro, mas ao passar e ver que está acontecendo algo
diferente na Praça ele é tocado. Nem que seja por pouco tempo. Isso para não
dizer que a Praça da Estação e seu entorno já estão marcados no imaginário de
lutas da cidade. O deslocamento para o
Parque Municipal me deu a impressão de se tratar de um clubinho. Um clubinho
frequentado pelos artistas e por consumidores (e outros nem tanto) habituais de
cultura.
Os shows de abertura. Não é que
foram ruins. Nada disso. Não quero fazer esse tipo de juízo de valor. Mas penso
que caberiam mais para eventos do próprio ponto de encontro (quando isso
começou chamava-se Bar do FIT) do que propriamente para uma cerimônia de
abertura. A batucada inicial com os artistas mascarados começou meio fria, com
os artistas tentando provocar algum incômodo na plateia (não causou) e depois
foi estabelecido um ritmo interessante e só. E essa não foi apenas a minha
impressão. Várias pessoas que estavam presentes sentiram o mesmo. O.K, vão me
dizer que a atual curadoria quis uma mudança de paradigmas. Tudo bem, podem me
chamar de velho (e nem vi nada tão novo assim no que foi mostrado, a começar
pela batucada), mas ainda prefiro o paradigma antigo.
No mais vou tentar ver o maior
número possível de espetáculos e irei comentá-los neste blog.
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