FIT 2
Black
off e A Invenção do Nordeste foram os espetáculos do FIT que vi até agora e
achei um acerto da curadoria.
Black
off é um trabalho da artista Ntando Cele de Zimbábue que se apresenta com sua
banda de suíços brancos, conforme a definição dada pela sua personagem Bianca
White logo no começo do espetáculo. Um espetáculo incômodo. Acostumados a rir
do black face que até bem pouco tempo era naturalizado como expressão de
pilhéria, é difícil para nós brancos não sentirmos um incômodo quando a coisa
se volta contra o conforto de nossa “branquitude”. Aqui temos uma branca
maluca, uma White face, uma irmã “espiritual da Xuxa” a falar de um
branqueamento total do mundo, de expulsão de nossa negritude interior,absurdos ditos de uma forma leve e espirituosa que nos fazem rir...De nervoso.
O
espetáculo é dividido em duas partes. A primeira é uma espécie de stand-up em
que Ntando Cele com muita graça e ironia nos faz provar um pouco do nosso
próprio veneno, de nossa falsa consciência de que ser branco bastaria.
E o veneno surte efeito quando vemos, no meio do espetáculo, uma senhora branca se levantar e sair resmungando. A primeira parte termina com a desconstrução de Bianca White. Sentada defronte ao espelho com uma câmera de vídeo a projetar seus gestos em uma tela, a atriz tira a maquiagem e nos mostra que por trás da caricatura há um ser humano, uma mulher negra que usou a máscara para denunciar os naturalizados preconceitos nossos de cada dia. Na segunda parte, Ntando vem de cara limpa e depois de uma breve cena em que ironiza os estereótipos da África exótica e selvagem, canta uma bela canção acompanhada pela banda enquanto o vídeo de uma performance em que ela aparece com o rosto todo amarrado por uma corda é mostrado. Uma cena linda. Para mim o espetáculo deveria acabar ali. A seguir, com outro figurino ela retorna e dá um pequeno show onde canta quatro músicas. Achei o final um pouco reiterativo. Ela canta muito bem, a banda é boa, as letras são de protesto, mas sobrou um pouco. A galera se levantou em êxtase. Ponto para o FIT.
E o veneno surte efeito quando vemos, no meio do espetáculo, uma senhora branca se levantar e sair resmungando. A primeira parte termina com a desconstrução de Bianca White. Sentada defronte ao espelho com uma câmera de vídeo a projetar seus gestos em uma tela, a atriz tira a maquiagem e nos mostra que por trás da caricatura há um ser humano, uma mulher negra que usou a máscara para denunciar os naturalizados preconceitos nossos de cada dia. Na segunda parte, Ntando vem de cara limpa e depois de uma breve cena em que ironiza os estereótipos da África exótica e selvagem, canta uma bela canção acompanhada pela banda enquanto o vídeo de uma performance em que ela aparece com o rosto todo amarrado por uma corda é mostrado. Uma cena linda. Para mim o espetáculo deveria acabar ali. A seguir, com outro figurino ela retorna e dá um pequeno show onde canta quatro músicas. Achei o final um pouco reiterativo. Ela canta muito bem, a banda é boa, as letras são de protesto, mas sobrou um pouco. A galera se levantou em êxtase. Ponto para o FIT.
O que é ser nordestino?
Existe
um rótulo que nos colocam ao nascermos para nos identificar como mineiros,
gaúchos, cariocas ou nordestinos?
Ser
nordestino é o quê? Falar de um jeito diferente? Todos nós falamos diferente em
cada região de Minas. É só viajar pelo estado. Fala-se de uma forma em Januária
e de outra em Juiz de Fora. De um modo peculiar em Varginha e outro em BH. E
não somos todos mineiros? O
Grupo Carmin, do Rio Grande do Norte traz de forma divertida essa questão da
identidade nordestina. Em cena dois atores que disputam o papel em um trabalho
para a televisão (Globo) e um preparador de elenco. Eles irão disputar o papel
do Padre Cícero e precisam mostrar a cor local. No trabalho de preparação que
leva seis semanas eles discutem os vários aspectos do ser nordestino, a origem
do rótulo que veio da imprensa do século XIX depois da grande seca de 1877. O
trabalho diz muito sobre o que pensamos sobre nós mesmos e, para nós atores,
diz muito sobre como encaramos os desafios que nos são colocados quando
precisamos dizer algo sobre nós mesmos.
A questão da identidade, sempre atual,
é trazida à tona num momento em que os próprios destinos da civilização no
Brasil são colocados em cheque e, no meio de um bizarro processo eleitoral, a
decisão sobre o futuro da sociedade brasileira pode ser decidida por um embate
entre o norte e o sul/sudeste. Ainda sobre a identidade: nós somos o que
pensamos que somos ou o que pensam que somos? É claro que no final um galã
global é escolhido para o papel e os dois esforçados atores são convidados para
papéis menores em outro trabalho. Um como porteiro em um edifício e outro como
operário da construção civil, os papéis que a sociedade branca, letrada e
classe média do sudeste/sul gosta de designar para os nordestinos (além do
exotismo para turista). Com graça e humor o Grupo Carmin põe vários dedos na
ferida de nossa consciência sulista, a começar pelo papel aniquilador de
identidades assumido pelos meios de comunicação. Outro ponto para o FIT.
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