domingo, 16 de setembro de 2018

Atendendo a pedidos


Atendendo a pedidos não está no FIT, mas corajosamente está em temporada durante a realização do FIT. Estreou na Sala Júlio Mackenzie no Sesc Palladium no último dia 14 e depois se apresentará em três locais diferentes nas próximas três semanas.  Mas é um espetáculo que poderia perfeitamente compor a grade de programação do grande festival. Tanto pelo que ele fala quanto pela forma como fala.
O espetáculo é fruto da parceria entre o ator Robson Vieira e o diretor Lenine Martins. Há outras duas parcerias que garantem o bom resultado do espetáculo, Javier Galindo, na trilha musical e Denner Moisés que divide a iluminação junto com a dupla ator/diretor. O trabalho faz parte de um projeto maior do Grupo Teatro Invertido que já estreou outros dois solos.

Conheço Robson Vieira há mais de vinte anos e já trabalhamos juntos em três espetáculos: A Farsa da Boa Preguiça (pelo qual ganhou o Prêmio Usiminas/Sinparc de ator revelação), Tribobó City e Retrato Falado. Atendendo a Pedidos é seguramente um de seus melhores trabalhos. Fruto de uma investigação corporal e temática inteligente. Robson Vieira é um ator que sabe muito bem explorar as habilidades de seu corpo, mas seu trabalho vai muito além de uma mera exploração. Há espetáculos em que os atores exibem suas habilidades corporais sem que essa exibição traga necessariamente algo de significativo ao que estamos assistindo.  Não é o caso de Atendendo a Pedidos onde o ator coloca com verdade seu corpo a serviço da encenação, em que o trabalho da dramaturgia e da direção só ganham verdadeiro sentido quando conectado a presença do ator que os traduz.

O espetáculo é composto por cinco quadros que, segundo o ator, são apresentados de forma aleatória a cada apresentação de modo que um espetáculo nunca é igual ao outro. Na apresentação que vi fui capturado de imediato pelo quadro que fala sobre o acidente de Mariana. Esse acidente que continua como uma ferida aberta, não purgada pela nossa confusa sociedade. O quadro sobre a lama de Mariana me fez pensar no que é fazer teatro político hoje. Já havia manifestado essa minha questão com o próprio Robson em uma mesa de bar. Há muitos espetáculos que tentam ser políticos, trazer a discussão política para o palco. Acho importante, necessário, urgente. A questão é a forma. Como falar o que queremos falar. Há experiências recentes (premiadas até) que valorizam em excesso o discurso em detrimento da forma. O resultado é um espetáculo que parece muito mais uma aula ou um comício. Atendendo a Pedidos não cai nessa armadilha. O que diz é sério, mas também é engraçado. A reflexão não precisa ser sisuda.

Destaque também para a excelente trilha musical e para a luz. Não há cenário, mas objetos cênicos. O figurino é simples e muitas vezes o que vemos é o corpo nu do ator. Um corpo que não tem vergonha, não tem medo de dizer o que precisa ser dito.

Depois do Sesc Palladium o espetáculo será apresentado na Casa Circo Gamarra, na Gruta e por fim no Teatro de Bolso do Sesiminas.

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